Pensamentos

Orgulhosamente capaz de sentir a pedra no sapato, o caminho é duro mas capaz de transcender qualquer consciência menos positiva, a pedra, essa permanece e assim quero que continue, só assim posso degustar cada esquina, cada meta, cada desafio, ainda que os muros atrasem o nosso destino, existe sempre uma passagem para o outro lado, só temos que a descobrir, enquanto isso, caminhamos para alcançar cada dia um novo rumo, um lugar mais próximo pela descoberta do desconhecido.

Escrevo na folha de um livro que jamais será lido, escrevo palavras em branco que são em mim desconhecidas, escrevo na falésia do conhecimento e relato as experiências que vivo, as emoções que transmito e a verdade que enraízo, sou presente na maré alta de um mar que tranquiliza a rocha onde bate, sou presente na tempestade de ventos que me deixa sem respirar, escrevo por tudo isto e por muito mais, escrevo por nada saber, escrevo por não entender o tudo e não querer o nada, dou o olhar à batalha, enfrento o destino, a isso me obrigo, dou o meu ser à vida, porque da vida levamos o livro, o livro do pensamento, o livro branco que jamais será lido.

Manterei a certeza da dignidade e tolerância ao ponto de não cair na tentação de me tornar carente aos olhos do mundo, porque a manifesta razão da carência alheia, desperta a verdadeira realidade da nossa própria carência, o que alguns não sabem, outros saberão, carentes de princípios, de valores e de verdades, assim foram, assim continuarão a ser e assim serão, não tenho como comum o julgamento mas vivo a ser julgado, não tenho como comum a mentira mas vivo com ela todos os dias, a carência assim se reflecte, não como comum, mas como uma vivência permanente, que nos toca, que nos fala e que nos ouve.        

Entrei em tua casa e vi-a despida de preconceito e mentira, nada existe senão o branco celeste que contrasta com uns vitrais iluminados pelo sol, os bancos estão presos ao passado e à memória de um tempo que jamais existirá, o som do silêncio acalma os gritos de um mundo cruel e pouco humano que me viu nascer e crescer, as tuas portas são dignas de uma entrada triunfal numa terra inóspita, o corredor principal é atravessado por vozes e pensamentos de um tempo em que tudo era diferente, o tua mesa enche-nos de paz e perseverança, de joelhos me confesso, de olhos fechados me penitencio e de coração aberto te agradeço o momento, a presença e o sorriso que encontro a cada dia, em cada lugar, vais comigo e comigo ficarás para sempre, porque em tua casa me revigoro. 

Vivo no pleno momento de ser igual a mim mesmo, as palavras que penso para mim e que jamais as transmiti foram ultrapassadas pela vontade de as partilhar, de as viver, consegui, contigo, consegui ultrapassar este meu destino, consegui iludir o meu pensamento e, nos teus olhos, no teu íntimo, escutas o que te digo, interpretas o meu ser, conheces-me como ninguém, sabes tudo de mim, sabes as minhas fraquezas, sabes que através delas procuro a minha força, o meu alento. Nos teus olhos vejo tudo o que me faz seguir em frente, no meu ser sinto o desejo de te falar, consegui.

Na tua presença somos esperança, somos virtude e altruísmo, somos os teus olhos e os teus ouvidos, somos o caminho que trilhaste por nós, no sorriso podemos olhar o teu desejo, estás presente em cada lágrima, em cada abraço, em cada gesto, no fundo espreitas em qualquer esquina, em qualquer lugar, num qualquer banco de jardim, esperas pacientemente que falem contigo, concedes, a cada dia, uma nova página de vida neste livro a que chamamos tempo, por isto e por aquilo que me falta dizer, obrigado! 

Quando dotados de virtude, conseguimos olhar o mal por fora e o bem por dentro, conseguimos olhar o primeiro com olhos de ver e o segundo com coração atento. Pelo contrário, aquele que é hipócrita, mundano, os seus males estão por dentro, porque os considera verdadeiros, e os seus bens por fora, porque são imaginados, aparentes e não reflectidos. De todas as virtudes, somente a humildade se pode e deve ignorar a si mesma, conduz com os olhos baixos, e focados no abismo e no desalento do seu nada, nada transmite sobre o seu conhecimento, porque o verdadeiro humilde, aquele que o é de coração, jamais presume que o seja, já em tempos passados se dizia que "Sê humilde se queres adquirir sabedoria; sê mais humilde ainda, quando a tiveres adquirido".  

Funde-se em nós um desejo superior, apertamos as mãos e deixamos que a história faça o resto, somos parte dela e ela faz parte de nós, sentimos o prazer de cada momento, cada sussurro, cada gesto, cada olhar, ficamos calados, expectantes, adormecidos nos nossos sonhos, deitados no nosso mundo, um mundo que achamos desigual, ao qual pertencemos e no qual jamais nos vemos, criamos a inquietude, somos propietários dos nossos erros racionais, fazemos deles o que queremos, fazemos da nossa vida o critério perfeito daquilo que somos nos outros, no fim, sinto-me teu e sinto-te minha.    

Estás presente num qualquer gesto meu, num qualquer olhar, numa qualquer palavra, vejo-te em qualquer direcção, sinto-te num qualquer momento, é como se o meu pensamento fizesse parte de ti, não sei como te pedir, como te perguntar, não sei o que te dizer, faço as coisas sem pensar, pergunto-te baixinho e dás-me a resposta que quero ouvir, escuto-te sem falar contigo, pressinto-te sem estares comigo, sei o teu mundo, a tua verdade e  não disfarço, sei o aperto, o anseio e o desejo de estar só, fechar os olhos e encontrar-te.

Um dia, ao olhar para trás, vou agradecer este momento, vou agradecer o presente, vou sentir que só esse passado me pode trazer a felicidade de hoje, um dia, ao olhar para trás, vou lembrar-te, pequena e frágil, vida em mim, vou agradecer cada segundo no meu colo, cada sorriso no meu retrato, um dia, ao olhar para trás, vou desvendar o mistério dos teus olhos, vou ouvir a voz do teu silêncio, vou permanecer no encontro dos teus desejos, nesse futuro, um dia, serás o meu passado presente.   

Deixa-me ser teu, deixa-me entender-te, fazer parte de ti, do teu mundo, do teu feitiço, leva-me a passear pelo teu pensamento, pelas tuas palavras, leva-me pelo caminho mais justo e acredita na versão verdade, arranca de mim este princípio de tudo que não acaba mais, segura na minha mão e faz-me entender o que sou e o que deixei de ser, ocupa em mim o teu espaço e escuta as conversas do meu coração, será que os anjos sabem voar, será que o vento sabe soprar e o fogo sabe queimar, desperta em mim a ansiedade de ser eterno, entre chuvas de homens e tempestades de areias, neste deserto sem calor e oásis sem água, serás tu a condição, a regra, a decisão. 

Terra de gigantes, de feitos e adversidades, de montes e vales, de estreitos e largos caminhos, lugares desconhecidos e apertados, lugares sem pensamento e sem vontade, onde os muros são altos e as janelas difíceis de alcançar, onde se perde muito ou se ganha nada, nada que neste momento é tudo, por esse caminho sombrio, existe uma palavra que está escrita em cada pedra, em cada passo, a palavra esperança, consumida pela verdade e pela audácia, recriada pela dignidade, sofrida mas proveitosa, escondida mas verdadeira, com ela e por ela chegaremos, juntos, ao fim.  

Um dia vou ler uma mensagem escrita por ti, as tuas palavras serão a lembrança do que fui, o tempo da memória, serei capaz de o reviver, saberei olhar para trás para poder alcançar o amanhã, estarás ao meu lado, partiremos juntos numa viagem sem rosto e sem destino, sentiremos o sonho de cada um, ouvirás a minha voz num gesto sedutor ou num olhar verdadeiro, caminharás sempre com a presença da minha sombra, até à eternidade e para além dela, jamais te deixarei.   

Estou de regresso, a viagem correu bem, na tua presença encontrei a calma e a tranquilidade necessárias para mais uma jornada, ponderado e capaz, assim me sinto perante ti, vida, capaz do melhor e do pior, capaz de nos fazer desesperar e capaz de nos fazer sorrir sem limite de tempo, o teu sentido está presente e é conhecido, a tua voz encontra palavras nunca ditas que nos transportam para mundos desconhecidos, sonhados, jamais vividos, em ti descubro o conforto, a atitude e a verdade, a tolerância e a fraternidade, perante ti, consigo olhar os outros e fazer-me perceber, nos teus braços de desassossego olho as estrelas e o mar que me acalma, vejo no teu espelho quem sou e tudo se transforma, tudo de regenera, tudo se interpreta e tudo se vive perante o teu querer.  

E sperei sempre que entendesses as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz. Sei hoje que apenas esperei, e esperar não é suficiente, esperei pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste, esperei tanto e nunca fui capaz de fazer, quero pedir desculpa, e sei que pedir desculpa não é suficiente. Às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo, gosto das palavras que dizes em silêncio, dos gestos que fazes no escuro, da verdade que alcanças da mentira, do sorriso que tiras da tristeza, eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que nada disto foi escrito, sim, hei-de fingir que não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir qu e não as leste.

Ainda existe o silêncio, que cativa o próximo com um simples olhar ou um simples gesto, que fala tudo sem dizer nada, será ele a realidade, será o silêncio a verdade da palavra, aquele que nos faz sonhar, que nos faz lembrar o que somos, será a força, a virtude, será o nosso melhor confidente, a nossa melhor atitude, o nosso caminho para chegar a uma realidade que se esconde entre palavras, será a essência que procuramos e que não entendemos, será que somos capazes de o interpretar, de o perceber na sua plenitude, será que somos capazes de viver o silêncio...será que somos os tolos da sapiência??? "Um tolo que não diz palavra não se distingue de um sábio que se cala" - Molière, Jean  

Nos teus braços adormeço profundamente a minha vida, nos teus olhos consigo ver quem sou, nos teus sonhos ocupo um papel imaginário, que me leva a paisagens calmas e transparentes, não tenho receio ou vergonha, tenho vontade de te pegar, de te tocar e te falar, espero por ti e pelas tuas palavras, acredito no teu sorriso e na verdade do teu choro, quero ser parte desse sentimento que me transforma e me apaga para o mundo, quero ser parte do caminho que irás percorrer, lugar de desertos, vales e montanhas, de sol, de luz e escuridão, quero ser para ti aquilo que sabes que és para mim.   

Soube de uma mãe que nunca disse ao filho que era cego, então ele fazia todas as tarefas de casa que sua mão lhe pedia, cozinhava, limpava, ia às compras, o mundo aos seus olhos era assim e assim seria para toda a gente, irmãos, pai, mãe, amigos, vizihos, já na escola primária se apercebeu que era diferente, pois seus amigos gozavam com a sua situação, a partir daqui, sabendo ele que era diferente de outros, a sua vida mudou, ele ficou com a certeza que o mundo não era visto por todos mas só por alguns, ele era um privilegiado, pois ele sabia como via o mundo, ele entendia o que via, ele vivia na felicidade, para ele, tudo era de uma só cor e todas as pessoas eram iguais, não existia o alto, o magro, o gordo, o feio, o bonito, a cor da pele, existiam as palavras, os cheiros, o vento, as descidas e as subidas, os degraus, o tacto, o carinho, existia a ventura aos seus olhos...,na nossa vida, muitas vezes, de olhos bem abertos nada vemos senão a nossa razão, ...

A confiança que depositamos na bondade dos outros não é mais do que o testemunho maior da nossa própria bondade, a nossa virtude e dignidade não se mede pelos nossos esforços mas sim pelos nossos comportamentos, quando não somos chamados a duvidar, jamais poderemos conhecer a verdade.