São as lágrimas que ocupam o meu desassossego, que me deixam capaz de nada dizer, que me levam a virar a cara para o outro lado porque sinto o travesseiro molhado, são as mesmas lágrimas que me fazem levantar a cada dia, que me fazem olhar o escuro do meu quarto sem qualquer medo. São lágrimas que me deixam a sós na minha solidão. São lágrimas que caem sobre o meu rosto e me fazem provar o seu gosto. São lágrimas que amam e que são amadas, que vivem e que morrem em mim. São lágrimas que fazem amor comigo, que nunca deixam o meu corpo, que escorrem delicadamente sobre ele até à certeza da sua efémera existência. São lágrimas que vivem breves segundos como únicos, como o instante em que tudo acontece. São lágrimas sem nome, que só aparecem na presença desse amor que vive dentro de nós.
"nenhum outro ruído é tão inquietante como aquele que sobra das palavras que se não dizem." Júlio Montenegro