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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2013

Lágrimas

São as lágrimas que ocupam o meu desassossego, que me deixam capaz de nada dizer, que me levam a virar a cara para o outro lado porque sinto o travesseiro molhado, são as mesmas lágrimas que me fazem levantar a cada dia, que me fazem olhar o escuro do meu quarto sem qualquer medo. São lágrimas que me deixam a sós na minha solidão. São lágrimas que caem sobre o meu rosto e me fazem provar o seu gosto. São lágrimas que amam e que são amadas, que vivem e que morrem em mim. São lágrimas que fazem amor comigo, que nunca deixam o meu corpo, que escorrem delicadamente sobre ele até à certeza da sua efémera existência. São lágrimas que vivem breves segundos como únicos, como o instante em que tudo acontece. São lágrimas sem nome, que só aparecem na presença desse amor que vive dentro de nós.   

Princípio

Descubro, enfim, que estás aqui comigo, não te espero mais porque te consigo ver, nesse ponto de origem, no antes do tudo, no antes da vida, do som e da cor, para vires até ao meu abraço. Hoje perdi-me a pensar nesse antes, onde já estive, e do qual só tenho um ténue sorriso, onde anunciada a noite, fica o deslumbre da tua janela despida de pedaços de lua cheia, de um modo que o silêncio e o sentir de ti se alimentam, de um modo que em ti o rio corre sem margens e solta-se em delírio o sussurro da entrega. Aparenta ser um desfile de cores que desafiam um súbito mar de emoções, temperadas com olhares e sorrisos de palavras nunca ditas. Poucas fracções de segundo e segue-se o silêncio, um cheiro agridoce invade-me os sentidos, e um manto de afecto desce em mim, é o preâmbulo da vida. Se é facto ou mera ilusão, não sei dizer, é apenas o que vi nesse testemunho de indagar o que me antecedeu. Na tua aproximação eu voltarei a sentir esse antes, poderei vê-lo e até tocá-lo, a essência desse...

Desejo

Diga-se, enfim, que o amor é apenas aquele que descobre e faz do desejo o simples desejo de ser vivido. Diga-se, ainda, que o corpo é o cerco, onde sitiado esse desejo, me perco, delicadamente.

Rumor

De nada adianta querer chegar à fala contigo, entre gritos dolorosos e sentires nunca vividos, apenas nos chegam os rumores do nosso infinito silêncio, e isso basta-me.

Até

A beleza da tua coreografia, a sedução que transmites no olhar, o delírio que esvoaça por entre os dedos quentes da brisa não é mais do que a razão que em mim eternizas, diante de ti perfilam exércitos apaixonados, mistérios que o tempo seduziu, momentos que só a essência pode sentir, daí o arrepio, a sede da alma, aquela que agasalhamos com roupa quando nos despem com o olhar. Não tens medo, és a síntese dos anos, és o que vem e o que foi, és a palavra perfeita que traz consigo a força do que diz, és uma linha sem traço, um desenho sem tela, um juízo sem mágoa, és o sorriso do sofrimento, és a resposta e a diferença na inquietude, és o romper do equívoco e o rasgar do silêncio, não há muitas outras razões para estar vivo, a não ser para te ver viver…

Tela

Na tela onde aos poucos nos vamos dando forma, partilhamos os sentidos, os silêncios, as vontades e os enigmas. O dia vai nascer de novo sem nunca saber para onde vamos, porque de onde quer que venhamos, é dentro do desenho que chegamos a tempo ou fora de tempo.

Domingo

Onde estás tu que não te vejo, onde escondes esse abraço que suspiro, que torna santo o meu culto desconhecido. Recusas o texto do teu olhar e namoras a verdade das palavras que só se escutam no silêncio, buscas no adjectivo uma forma de murmúrio e agarras o verbo numa fala descuidada. Desejo esse teu templo perdido, entre os cachos da lua cheia e a imensidão do infinito, ia jurar que ainda sinto o rasto do teu cheiro, mas o que mais impressiona neste sufoco de doces aflições são os domingos da vida.

Acordo

Fiz um acordo contigo que não me obriga a amar-te além do amor que sinto por ti, desde que me arrependa   antes da morte, não posso revelar os pormenores mas tu aceitaste, desde que eu morra antes do arrependimento…

Eterno

Já são estas horas e o meu mundo continua acordado, ouvem-se da harpa melodias intensas de assédio e provocação, as minhas pernas arqueiam e tremem sem nada poder fazer, dobra-se o corpo sobre mim mesmo e o silêncio volta a chamar, a clamar por um naufrágio de doces e intensos abraços, por um olhar que alimenta o sossego e os sentidos, por um sorriso que atravessa a rua sem darmos por nada, sob a forma de uma sombra que nos vela o sono ou de um olhar que faz descer escadas,   separando, delicadamente, o corpo e a alma não fosse o nosso desejo querer juntá-los no tempo,   passageiro ou eterno.