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A mostrar mensagens de 2012

Viagem

Aquela sensação de estarmos a meio da viagem e apercebemo-nos que nos esquecemos de algo que é fundamental para podermos chegar ao nosso destino, assim acontece, estou a meio percurso da minha existência e tudo o que lembro, tudo o que ouvi, tudo o que vivi e experienciei, todas as lembranças e memórias que guardo, tudo o que faz parte do meu passado não me deixa chegar ao meu futuro, dizem que o Homem para se realizar tem que pelo menos, plantar uma árvore, ter o dom da paternidade ou maternidade e escrever um livro, quem me conhece sabe bem que desta doutrina não colaboro, ao invés, apetece-me viver e agradecer por cada gesto, por cada olhar desconhecido, por cada palavra amiga, pelo ar que respiro e pelas palavras que vou lendo, despreocupa-me saber que existem as regras criadas por regras, jamais irei permanecer no registo de pensar o que outros podem ou não fazer para seguir em frente, antes percorrer este caminho sem destino ou lugar, percorrer este caminho a olhar para o presen...

Agora

Sem rumo, meio termo, partido, inacabado, como se de um lado se tratasse, só semblante, separado do meu intento que finaliza o absoluto de mim. Grosseiro, desesperado e isolado, arredado do outro lado que me cativa, desse lado do olhar, do sorriso intempestivo, do lado que tarda em chamar. Nem presente de, nem distante ou passado do, é um quase tudo cheio de nada e um nada quase cheio de tudo. Pois é, a norte ou a sul, é trapézio sem rede, à espera de uma palavra, de um sentido, de um qualquer gesto, de um dia. A inquietude do caminho que visto aos meus olhos não se conforma com a lentidão do despertar. É uma demora contínua que exaspera o presente, abdico da ausência de mim, da omissão do meu querer, do silêncio das minhas palavras, suporto tudo o que a vida me quiser dar, aqui, agora e para sempre.

No Quarto

Tudo o que preciso é de uma página em branco, é deste silêncio que invade o escuro do meu quarto, tudo o que preciso é olhar em volta e nada ver, assim como agora, assim como te escrevo, de costas voltado a ouvir o som das palavras que tenho dentro do meu pensamento, de repente tudo começa a ganhar vida, do escuro do meu quarto desperta uma lenta e demorada penumbra que vai abrindo o meu horizonte, que me mostra a existência de algo para além da escuridão, começa a ficar mais forte, mais intenso, o silêncio, continua a fazer-se ouvir, ele e o som das palavras que me deixam acordado neste quarto de incertezas, será possível que os meus olhos consigam ver o mundo deste pequeno e escuro lugar, esse mundo imenso que espera por mim, esse mundo que ainda tem tanto para me dizer, que ainda tem tanto para ouvir. Por esta altura a claridade que daqui emana já me deixa diferenciar onde estou e por onde quero caminhar, o sítio parece apertado e com uma única saída ou direção, mas isso era se ...

Palavra

Não sei porque o faço, não sei porque o deixei de fazer, a verdade é que sinto falta das palavras, não consigo viver sem elas, sinto a sua alma e a sua essência, sinto o que fazem por mim, olho para dentro de cada uma delas e revejo a minha personalidade, o meu desejo , a minha angústia, olho para cada uma delas como únicas, olho para a sua história e para o seu passado e não me esqueço do que querem de mim no presente e do que farão de mim no futuro, não sei o que pensam de mim, sei que existem e que querem ser conhecidas, sei que me fervilham no pensamento e me deixam inquieto, as palavras que guardei durante este tempo levaram-me para sítios onde nunca estive, percorri o mundo sem nunca ter saído desta esfera redonda, vi pessoas que não sei se existem, vivi sentimentos que jamais senti e mergulhei num mar ainda por descobrir, este é o poder das palavras, este é o poder do nosso querer, da nossa vontade, do nosso destino, é o lugar onde tudo pode acontecer, o momento imaginário, ...

Honra

Ausente que estou, que sinto, vou fazer-me à dura estrada entrelaçada em curvas e rectas famintas de portas e janelas, quero sentir a ira do meu horizonte, a luz que me resta ao longe, a fogueira que arde em alto monte, adeus, minha gente, é a hora certa, o momento exacto, a quem vejo arrependido, as mãos que me negaram e que um dia foram o amigo, adeus a essa gente, olá e bem-vindo a quem quiser, a quem estiver na curva ou na recta desta minha dura e inquietante corrida, nas minhas costas levo quem me ama, levo-te no peso do meu coração, levo-te dentro do meu sossego, estou bem, estou bem assim, despedido do lado errado em que nasci, no lado errado da vida, partir, ir, buscar, ausente vou ficar, longe de uma memória que não vou guardar, guardarei a lição, mas esquecerei o livro, adeus e até nunca, olá, muito prazer em conhecer-te, é uma honra viver-te. 

Talvez

Dou por mim a viver uma vida que não é a minha, dou por mim a ouvir o teu choro e o teu desejo sem nada poder fazer, olho para mais uma janela, para mais um sonho, rever o mar e as estrelas na escuridão são uma constante, o desafio da sua magnitude deixam-me inquieto e capaz de tudo, sim, porque aquilo que os olhos alcançam jamais o coração poderá desperdiçar, depois vem a certeza de não ter forças para te sonhar, para te viver, depois vem a certeza dessa música, dessa voz que esconde as palavras que ainda não dizes, depois vem a porta que abre e que faz entrar sempre a mesma pessoa, sempre os mesmos gestos e as mesmas verdades, e a vida à qual nos agarramos depende só de nós....ou talvez não!!

Será

Será, será possível encontrar a verdade num acto de desespero, será que ainda me resta algum tempo contigo, aquele tempo que me permite dizer o quanto gosto de ti, o quanto preciso de ti, será que me resta esse tempo, esse espaço entre momentos, será que soube dar-te tudo o que querias, ou será que deixei-me morrer lento, no lento passar do tempo, será que fiz tudo o que podia fazer, ou fui simplesmente mais um, aquele que vê, que olha e que relata, mas ainda que doa, nada faz, será que um dia vou entender o céu, as suas tempestades e o seu azul luminoso, ou será que o escuro e o negro não me deixarão diferenciar o Norte do Sul, será que o amanhã ainda existe para mim, ou ao ver-te, deixei-me ir, será que lá fora o mundo ainda gira, ou as estrelas caíram e qualquer sorte desapareceu, será que te vou amar como hoje te amo, será que nesse dia vais estar comigo, será que os anjos ainda cantam, será que sou eu que existo ou é tempo que perco quando tento sorrir, será mesmo assim, diz-me, s...

O Não

A palavra Não, uma vez que a conhecemos, somos incapazes de a esquecer, é capaz de tudo e ausente de nada, é a palavra que retrata o castigo enquanto mais pequenos e a palavra proibida numa verdade que queremos descobrir enquanto crescidos, depois deixa de fazer sentido e pensamos na volta que lhe podemos dar, na versão do momento, podemos confrontar o Não com o querer, com a vontade da mudança, com o espelho da indiferença, olhemos os 10 mandamentos, apenas num deles não é usada a palavra não, honrarás teu Pai e tua Mãe, em todos os outros podemos ler e interpretar a palavra Não como negação de algo, a verdade é que a despedida do Não é triste e deixa-nos no vazio, todos precisamos dele, e acreditem, ele precisa de ser dito, é uma das palavras mais bela, forte e sincera que conhecemos.

Preciso

Já foram os dias e as horas, continuas a escrever antes de tudo o mais, pensar em algo mais realista, mais mundano, o homem que assa as castanhas ou aquela senhora que vende as meias de que todos precisam, gosto de descer a rua e sentir o cheiro da calçada, gosto da terra e da areia molhada, gosto do dia quando está frio e com o sol à espreita, gosto do teu colo e de te ver no colo, a vida é mesmo assim, por vezes injusta e capaz de despedidas nunca ditas, por vezes justa e vingativa, por vezes cruel e imaginária, e outras vezes, somente, digna. Gosto deste som, deste amor que é teu, gosto do teu saber, na verdade o que escrevo, nada, nada que possa levar alguém a pensar na luta desmedida pela dignidade, até onde vou, não sei, qual o caminho, onde estás, aparece para que te veja, se tu precisas, eu também preciso.  

Há dias assim

Vou fazer segredo daquilo que não sei, vou dizer a todos que esperem por mais, que não desistam, que sei a cor que mais gostas, que sei o gesto que mais aprecias, que sei o que não faço por ti, quem é que vai cair neste meu engodo, desejo ou seja lá o que for, quem é que ouve o que o tenho para dizer, já é quase noite e ainda ando por aqui, respostas, não tenho, já falta pouco, dizem, há dias assim, que me deixam só, sem voz, sem esperança, com uma certeza, aquela que para mim guardo, e que só tu sabes sem nunca te dizer.