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Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2013

Indeclinável

No final do tempo, já depois de fechar os olhos, depois de entender o escuro e depois de poder ler a alma, será para mim indeclinável dizer que o silêncio foi a forma mais bela, senão única, de entender o amor da vida.  

Os dois mundos

O laço infrangível que consegue unir os dois mundos, que torna apócrifa a fronteira entre a vida e morte, e possível o seu encontro de todos os dias. Tudo pode continuar como está, numa espécie de limbo, de reino intermédio e esbatido, tudo podia continuar assim se o amor nunca tivesse aparecido, mas ele veio e isso alterou tudo…deixou que o silêncio tomasse conta da beleza, deixou-se levar pelo indomável espirito da aventura, deixou-se contagiar pelo inexorável sorriso, deixou um brilho único, irresistível. Veio para mostrar o carácter ilusório do paraíso em que pensamos viver, veio para obrigar a escolher entre este tempo e o outro, veio para dar a conhecer, com maior lucidez, a ponte que atravessa os dois lados da existência, veio com essa força dominadora, veio para ficar, veio para não deixar desistir, veio para nos escutar, veio para nos ler, veio porque tem um nome e uma força avassaladora que só a ele conseguimos dar, veio para fazer tremer e chorar, veio simplesmente. O amor...

Ainda sobre o silêncio

Ainda sobre este silêncio, aquele que em mim é apaziguador, que traz no pensamento um delirante e intenso grito, que é emotivo, marcante, único e essencial, que é destemido, sentido e sereno, que é ofegante e apertado, sincero e deslumbrante, esse silêncio que, simplesmente, considero perfeito, que refaz uma alma que já pouco vacila num coração disposto a aceitar as contrariedades da vida. Esse silêncio que vê os cartoons como os mais belos retratos do exemplo e dos olhos entorpecidos, que está presente no estigma, que não censura. O silêncio que faz sentir as borboletas no estômago quando se aventura no desconhecido. Mas porque devo silenciar este ensejo se o agora pode ser a única verdade que conheço?         

Olhares

O olhar que pode intimidar, que pode fazer viver, esse olhar que descobre o adormecido, que vive o desconhecido, o olhar sincero, feliz e único que se sente no coração, o olhar que une duas almas, que olha de olhos fechados, o olhar que conhece as costas, que passa pelas palavras, que lê nas entrelinhas, o olhar que comove, que não adultera, que não mente, o olhar da beleza e da metáfora, o olhar que descobre o sol no caminho de uma folha caída, o olhar amadurecido e de paladar acanelado, o olhar escuro da noite munido e perfilado de anúncios presunçosos, o olhar inquieto da intriga, o olhar que nunca foi visto, o olhar sofista, o olhar da arte e do domingo em descanso, o olhar nómada e fascinante, a força e a cor de um olhar meigo e doce, a alma de um olhar que se perde num vestido curto ou num sabor salgado de uma qualquer lágrima de saudade, que dizer do olhar, desse olhar, do olhar em silêncio, aquele que perturba e que tudo significa, aquele que jamais se esquece, aquele...

Equivoco

Não tenho qualquer intenção de esculpir palavras ou desenhar pensamentos, não tenho e jamais terei o prenúncio de fazer repousar as palavras antes de serem ditas, comovo-me com a felicidade de uns olhos que choram de alegria, intento nos passos a comoção da partida e o gáudio da chegada, repouso as mãos nesse mapa de sentido trágico que comanda o caminho do horizonte, nada acontece ao acaso e o acaso acontece por nada, até para lá do olhar, no palco desse trágico e difuso corpo que não vejo mas que sinto, nada é mais intenso que a intensidade de viver o que nunca foi vivido, nada é mais verdade do que a verdade desconhecida, que saudade dessa viagem que percorre o meu âmago e se deixa levar pelo mar de tormentas, que saudade do cheiro, do aceno, do aperto, do caminhar e do estar só, que saudade desse altruísmo que desfaz o culto do senso comum, que saudade da pintura, da tinta, do traço, do giz e do som sem importância, que saudade do travesseiro e da história que ainda não me ...

Escrever

Tirando o desenho de cores escuras e contornos delicados, aparece o índice que me reabre as páginas da vida e me faz aparecer no que leio mais à frente. Depois de me ver em plena leitura, sou confrontado com o amigo, esse que imagino e que me faz sonhar, esse a quem conto tudo, a quem não segredo nada, esse que me limpa a alma e me invade o coração, esse que conhece o que de mim é desconhecido, permitindo-me saber que o imaginário é infinito, não esqueço o preâmbulo e as partes ou capítulos em que o livro se divide. Em mim, escrever, é sempre poder levar a quem lê a sua própria história, escrever é tão somente criar, viver, sentir, é considerar o outro, é ter prazer no que daqui pode ser pensado, escrever é mais do que isso, é mais do que está a pensar, é mais do que penso, é ser, é soberano, é ter na página a frente e o verso, é saber olhar, é permanecer numa arte que identifica a alma como sendo minha e de mais ninguém, é como viver uma vida que é despojada do eu, se assim nã...

Amor

Metade, partido, assim como incompleto, como se existisse só um lado, só a cara, sem coroa, ausente que estou do meu adverso que invade o pleno de mim. Imperfeito, arredado dessa outra metade que me fascina, que já esteve e que já partiu, que tarda em voltar. Não sinto o perto nem o distante, é como um quase tudo, um quase mas. Suspenso, submerso de uma palavra, de um sinal, de um gosto, de um dia. A desassossego que vivo não se coaduna com a delonga desse sentir. Resigno-me da palavra, do olhar, de tantas outras coisas. Submeto-me ao pedido da vida, hoje e sempre, porque é sempre possível amar, mesmo se os outros não precisarem do nosso amor, porque esse amor sincero, esse amor sentido, esse amor que fala do coração é o único que é capaz de perdoar, de tolerar, de viver, de respeitar, de interiorizar e acima de tudo de prevalecer sobre todo e qualquer pensamento humano, porque é nesse amor que se deve ler o silêncio e é nesse silêncio que se deve falar de amor.

Tempo

Abertos que estamos a um mundo de constante mudança, saciados e projectados num caminho de revolta, convidados à esperança na certeza de um desejo que procura, desesperadamente, um rumo certo. Na manhã nos abra os horizontes de um anúncio de consolação em cada dia, porque quando a noite chegar, não temeremos, pois trilhamos caminhos de amor e concórdia, de plenitude e justiça, porque o vazio já cansa, é tempo de dizer ao tempo que o mar e céu não tem tempo, é altura de guardar o portador da voz, de ser humilde no convite, de encher os corações de rebuçados doces e cheios de vida, é o tempo para ter tempo de nós, é tempo de cantar o silêncio e dobrar o sol sobre si mesmo, é tempo de olhar o outro e viver o outro, é tempo de prometer a dança e o tempero das palavras, é tempo de brincar na estrada e cair na pedra dura, é o tempo da magnificência e do beijo sossegado, é tempo de um novo momento, é tempo de persistir na felicidade, é tempo...

Saudade

A saudade de ter no destino a crença de chegar a nenhum lugar, saber sem sequer o ter sentido, senti-lo como ninguém e vivê-lo porque faz todo o sentido, fica a tristeza triste por pensar nesta alegria que de tamanha tristeza se veste de um fado sem destino mas de lugar marcado na essência de um coração adormecido. Eterno e cúmplice nos teus conselhos para ser o que eu quiser e olhar a vista de um horizonte que deixou de ser criança e adormeceu no teu sorriso, assim vai o destino da saudade, a voz que não entoa, aquela que canta e lamenta sem ter sequer um qualquer lamento, aquela que ouve no silêncio uma voz que não é a minha e que canta por alguém cá dentro, a incerteza de que nada mais certo existe para além daquela grande certeza que é não estar certo de nada. Para onde vamos senão para o piano, para a melodia de um quarto vazio, de sombras e espaços em branco, não te esqueças de fechar a porta, a noite ainda demora e o teu segredo está guardado na metade de mim, esta sau...

Página

Caminho pelo livro que acabo de desenhar, não sei de quantas folhas é feito porque todos os dias viro uma e começo outra, sigo a intemporalidade do tempo, essa página que separa o ontem e o que sou hoje. O momento em que começo a linha que tudo transmuta, os dias, as horas e os segundos, este sentir que é eterno, intenso, repleto de mim e de ti, tudo numa simples linha, a linha que imagino como caminho e que acalenta a alma, perdi algumas palavras por esse caminho, mas quem hoje não caminha comigo, não lê metade de mim, porque hoje eu sou isto e muito mais, não estou sozinho no meu silêncio, e quem caminha ao meu lado acalma-me a alma. Quem está, encontra-me, quem esteve, ficou parado e não quis vir, quem veio, escuta os sussurros das minhas palavras, quem virá, a próxima página o dirá. Da natureza de uns e de outros se tece o argumento deste livro. Em uns e outros, a arte que se escreve e que se expõe, alada e complexa. Assim vão as páginas da vida.  

Delicada Intimidade

Do preâmbulo se faz a inquietação de uma beleza que se transforma em metáfora dos meus pensamentos, durante a lua cheia e perante uma presunção inquietante sou chamado a um sofisma que interpreta a arte numa delicada intimidade com a alma, sou chamado ao silêncio do meu incessante grito, sou chamado a uma pintura sem tela, onde a escrita e o pincel se cruzam na iniciação de uma matemática sem razão, onde o acordo obriga a uma urgência de afectos, de desenhos nunca desenhados, de testamentos nunca testemunhados, de exorcismos meditados, de ilhas por descobrir. Acerca de anjos, acerca do corpo, acerca do meu eu, acerca da origem, do tempo no desenho, do doce oculto em redor da babilónia, redonda que é a vida, fica a visão da dor, do ego e do desenlace. Relevo saber o caminho mais fácil, nada é mais simples de tão enigmático.

Ler-te

Leio-te porque sei que estás aqui comigo, sei que esperas, nesse ponto de partida, no antes de tudo, no antes da vida, do som e das palavras, para vires ao meu abraço. Leio-te nos olhos e no perfeito olhar, partindo da provocação que só o mistério da alma pode desvendar, perdi-me a considerar o antes, esse lugar onde já estive, onde já fui, mas do qual não tenho lembrança, se bem que lembrança não é a palavra certa, porque esse é, certamente, um lugar que tenho intrínseco em mim mas o qual não alcanço, e é nesse lugar que quero estar, naquele que posso, talvez, um dia encontrar.

Diálogo

No dia em que as palavras me faltam, sou o desenho encurralado na própria deixa do papel, apoio as minhas mãos neste livro a que chamo vida e tento desfolhar uma página de cada vez, tento ler o que o silêncio me escreve e escutar as palavras deste mudo e surdo sentimento, deste diálogo inconcluso entre a leitura e a escrita, o que resulta no extremo, é um manifesto de culto pelo belo e incomparável sabor a letras. Esta é a verdade que se lê e que se ouve de palavras que emergem do corpo e do desenho, palavras que não são mais que um pedaço de segredo, do que vi no teu olhar, é tudo o que afago para este dia sem cor e parco de sentidos. Hoje careço dos teus verbos, mesmo que sejam proferidos no sossego mútuo do nosso estigma, careço desse sentido que dás só ao olhares para mim pelo canto desses olhos, de uma intensidade sem fim, premente de dias, de segundos incessantes de infinito, dessa transcendência de nós e em nós, substância na forma e no ser, na sensualidad...

Alma

Esse grito que nos sussurra o corpo, o que agasalhamos com roupa quando alguém nos despe com o olhar, essa indisfarçável intuição que na impetuosidade faz do silêncio o elegante folhear do destino. Essa alma que solta sempre a mesma risada, que encurrala o papel entre o lápis e o saber, que é capaz de vir até junto de nós, capaz de levitar o sonho da escrita e a verdade da consequência, a mesma alma que procura na viagem o vestido certo para cobrir a lua de desejo, a mesma alma que tempera o mar com areia salgada, a alma que serve o fim da vida eterna, a mesma alma que pede desculpa sem nunca se desculpar, a alma que beija o desassossego dentro de um único e perfeito olhar, a alma que se recolhe e se perde na perfeição inútil, essa mesma...a alma.

Do cosmos ao sonho

Nesta manifestação de infinitos, percorri um caminho curto entre o cosmos e o sonho adormecido, de todo este movimento e num único pedido, parei o tempo e escrevi um texto em que nenhum dos dois quer saber de onde veio, de que é feito ou de quem é a culpa. Apresentam-se, ausentam-se, afagam, saúdam, ignoram ainda, concordam e discordam e no palco do extraordinário, sofrem, sofrem de inquietude porque nenhum dos dois imagina viver um dia de cada vez à espera de saber o que existe para lá deste silêncio. Por isto, no fim da cada linha, recolhem a casa e, nos braços desse querer, entregam-se à dança, desarrumam os desejos e aguçam o lápis, rodopiam encantos, confessam almas e sombras, alimentam sentidos e tempestades, imaginam a arte e o verso, porque a vida, esta vida, não lhes basta.  

Amargo

Instiga-me este amargo que se abraçou em mim, inquieta-me não tecer as palavras que possam reflectir esta urgência premente que ainda sinto e que estreita em mim a veemência da tua presença. Atento no teu silêncio, permaneço na verdade deste sentido. O que foi, o que ainda está por dizer, o gesto que ainda não vivi, o gesto que apenas sonhei, esse desejo que permanece e fica na consciência de um pensamento, na verdade de uma lua que nunca mais se deixa cair, que é sombra, mas que persiste camuflada na distância e no caminho que não quero impor, antes viver. É o que é, a simplicidade do carinho, do olhar, do ser, do estar, do realizar, do persistir, do perder, do voltar a ter, do agir, do querer transformar, do afecto, e de tantos outros prenúncios sem fim de movimento e de tempo, hoje, aqui e agora, nesse abraço que ficou por enlaçar e no beijo doce que entregas à minha face, nessa demora que é tão própria de ti, fica a banda desenhada, fica a fantasia demor...

Momento

Esse momento que perdura numa lágrima que não cai, numa voz que não é a própria, recortado no senso que nada tem de comum, invulgar, rigoroso e de olhar feito espelho, momento de sons e sílabas nunca compreendidos, os que com ele se envolvem, devolvem sem esforço a força de uma vida que se forma no dia-a-dia, que parte e que fica, para de novo partir e para de novo ficar. Assim amanhece a rotina que não é a rotina que nunca foi e que jamais o será, porque a palavra não cala e a pintura não apaga, o que posso eu desenhar não desenhando, o que posso eu escrever não escrevendo, é este o momento, o momento do pedido, escrevam por mim...

Medo

Embarco de novo nesse medo, o medo que reinventa o prazer de navegar este mar nunca antes navegado, distingo na perfeição o desenho que, repentinamente, se torna sopro de desejo onde tudo acontece. Um de nós sussurra "como é bom!" e o outro cai sobre as estrelas da espera e ruma para um vento desconhecido. Outro de nós admite "que saudade!" e desata as amarras do desejo e lança a âncora na lua. A nossa nova morada. É então dobrado o cabo da boa esperança a golpes de crateras e cometas, de meteoros e pontos de exclamação, depois, depois pintamos o corpo no mar da tranquilidade, sentimos um beijo sossegado e olhamos os corais cá de cima, liberta-se então o cheiro, impregnando tudo aquilo que é consequência, a interrogação persiste e o ponto final clama por entrar neste enredo sem fim, sem limite e sem verbo, onde a busca pelo acento é feita por adjetivos solitários , onde o medo realça a escuridão, onde o medo pega ao acaso na palavra e transforma-a no texto da vida...

A visão do sonho

Adormeço enquanto estás, deito-me na tua presença e sinto o calor do teu lugar enquanto me aconchego nos teus braços, cruzo as pernas nas tuas e ignoro os olhos fechados e a respiração que bate nos meus olhos, chego mais perto, sinto mais perto, como se a minha alma se unisse ao teu corpo desnudo de preconceito e de desejo, como se entrasse em ti e de ti soubesse o que ainda não descobriste, o que ainda não sabes, sob a forma da minha sombra, que me vela o sono, que me leva à intemporalidade e para não me deixar cair na tentação, separo, delicadamente, o meu corpo da minha alma, então fico com os olhos da alma e vejo o corpo entrar em ti, no teu destino, no teu ser, a união acontece e revela-se o olhar cúmplice, meigo e destemido, acontece o gesto, o toque, o sentir da pele aveludada, os nossos corpos numa única sensação desarrumam o desejo e enfrentam a dança do crime perfeito, sitiados os sentidos, tudo se torna infinito, fora de mim vejo o meu Eu e o te...

Palavras

Viajo sem fim à vista ou sempre do mesmo modo, viajo pelas palavras e pelos pensamentos que aqui vou lendo, a viagem é sempre a mesma, sinónimo de descoberta, de novo, de aventura, sobre o lápis vou deixando a minha marca, o escrito da minha consciência, deixo-me levar pela dobra das palavras e por aquilo que elas podem ou não significar, deixo-me levar pelas cores que me mostras e que desconhecia existir, pelos sons e pelas formas, crio os novelos,  lembro de alguns testemunhos, desdobro em palavras e invento as legendas, no diálogo que mantenho com o silêncio, vou descobrindo o comum da gramática e o já esquecido poeta da arte e do enredo, do dizer só e do só escutar, o extremo e intangível sagrado e profano, o novo dicionário e o mais antigo testamento, digo, então, o que nunca disse a ninguém, imito aquilo que ouço no meu pensamento e por mero acaso, emerge, das malhas mais profundas, esse desejo que é sonhar-te, que é gostar-te, que é amar-te, assim vão as palavras que j...

Memórias

O cheiro da terra, a sua cor avermelhada, esse sol que se esconde no horizonte, este silêncio que se estende na memória de um dia que ainda não vivi, a fotografia que ainda não tirei, a música que ainda não ouvi, a rua que ainda não percorri, a viagem que ainda não fiz, o reencontro que ainda não chorei, com quantos traços se pode apagar a memória, com quantos instantes se pode escurecer o querer, o sentir, onde estás tu, por onde andas, levanta-te e mostra-te, deixa-me agradecer, deixa-me viver, deixa-me entender esta culpa, esta raiva solitária, deixa-me figurar perante ti, deixa-me romper o equívoco, rasgar o silêncio, deixa-me meditar no abrigo da dor, da tua dor, deixa-me ser o verso e a melodia que o acompanha, deixa-me ficar na cor dos teus olhos, no limite da tua cumplicidade, deixa-me ser tudo em ti, minha triste e futura memória.

Confiança

Não me perguntes mais, segura-me nos teus braços, ampara o meu silêncio e as lágrimas que gritam enquanto dormes, de nada adianta querer chegar à fala com as palavras, entre os rumores que nos chegam e a infinita misericórdia, vive um ser de confiança, de transcendente sentido, de inteira verdade, herdada da vida, só para que a morte faça sentido, só assim repouso a mão na teu infinito mapa de sentido trágico que nos arranca do calor até ao fim do horizonte, até para lá da viagem, até para lá do luto e da agonia, até onde achas que conseguimos ver, mas é preciso ver mais longe, é...é preciso amar sem cura e confessar calado, é preciso, perante a beleza, perder-me diante de ti, recolher esse olhar perdido e entregar-me à dança, ao rodopio inventado entre o lápis e o pensamento, é preciso desenhar o não desenhado, é preciso encontrar a ilha dos amores, relatar doces escritos e naufragar diante desse teu ser, desse teu desejo, juntos ainda e para sempre,...

Não sei...

Não sei, não sei desse barulho, desse longo e intenso barulho que um dia ouvi do teu colo, das escadas que subi, da varanda que espreitei, da viagem que fiz, do decorrer do destino, não sei, não sei desse barulho que só o silêncio consegue entender, que irrompe das cinzas como uma espécie de luar, que deixa pelo chão a sua forma, que declama no palco trágico do meu ser, nesse rosto que descubro de olhos fechados, que comovido, deixa escapar essa dor, essa dor que nos junta, que nos entretece, que nos alia num só e único mundo, não sei, não sei do substantivo, do pronome, não sei da primeira pessoa, ou da terceira, não sei do verbo, nem da alcunha, não sei do preâmbulo, nem desse exercício, o da intimidade, não sei da prosa nem da poesia, não sei da tarde de sol poente, muito para além da rebentação das ondas, não sei até onde consigo ver, não sei viver o dia sem ver a noite, à espera de saber se existe algo para lá destes despojos que a vida insinua, é um desenlace,...