Adormeço enquanto estás, deito-me na tua presença e sinto o calor do teu lugar enquanto me aconchego nos teus braços, cruzo as pernas nas tuas e ignoro os olhos fechados e a respiração que bate nos meus olhos, chego mais perto, sinto mais perto, como se a minha alma se unisse ao teu corpo desnudo de preconceito e de desejo, como se entrasse em ti e de ti soubesse o que ainda não descobriste, o que ainda não sabes, sob a forma da minha sombra, que me vela o sono, que me leva à intemporalidade e para não me deixar cair na tentação, separo, delicadamente, o meu corpo da minha alma, então fico com os olhos da alma e vejo o corpo entrar em ti, no teu destino, no teu ser, a união acontece e revela-se o olhar cúmplice, meigo e destemido, acontece o gesto, o toque, o sentir da pele aveludada, os nossos corpos numa única sensação desarrumam o desejo e enfrentam a dança do crime perfeito, sitiados os sentidos, tudo se torna infinito, fora de mim vejo o meu Eu e o teu Tu, é o nosso corpo que vejo daqui, não dois, simplesmente um, o nosso, como no génesis, vagueando no éden ou em qualquer outro lugar, onde o vento distingue quem anda ao vento, onde as cores e cheiros se misturam, onde aos poucos nos vamos dando forma para de novo partirmos mas sem nunca saber para onde, porque onde quer que estejas, estás comigo, é dentro deste silêncio que chegamos a tempo ou fora de tempo, por fim acordo deste doce e único sentir e fico sem saber quem fala, o corpo ou a alma.
Na descoberta de uma nova palavra somos confrontados com tantas que não conhecemos que nos apraz dizer que dentro de nós existe sempre algo desconhecido, que neste dia, alguém irá aparecer, falar e dizer qualquer coisa que por nós nunca foi ouvido, a isto chamamos crescer, aprender e respeitar atitudes e comportamentos que desconhecidos podem pronunciar a melhor razão do saber.
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