Não sei, não sei desse barulho, desse longo e intenso barulho que um
dia ouvi do teu colo, das escadas que subi, da varanda que espreitei, da
viagem que fiz, do decorrer do destino, não sei, não sei desse barulho que só o
silêncio consegue entender, que irrompe das cinzas como uma espécie de luar,
que deixa pelo chão a sua forma, que declama no palco trágico do meu ser, nesse
rosto que descubro de olhos fechados, que comovido, deixa escapar essa dor,
essa dor que nos junta, que nos entretece, que nos alia num só e único mundo,
não sei, não sei do substantivo, do pronome, não sei da primeira pessoa, ou da
terceira, não sei do verbo, nem da alcunha, não sei do preâmbulo, nem desse
exercício, o da intimidade, não sei da prosa nem da poesia, não sei da tarde de
sol poente, muito para além da rebentação das ondas, não sei até onde consigo
ver, não sei viver o dia sem ver a noite, à espera de saber se existe algo para lá
destes despojos que a vida insinua, é um desenlace, é a saudade que ainda está
para nascer, a inquietação que se agarra ao piano ou a eloquência de uma
guitarra que grita notas de inúteis melodias, é a beleza inebriante de uma
paisagem africana, é o balanço seduzido pela luz da vela, é a agitação da arte,
é fascinante o saber que não sei...
Na descoberta de uma nova palavra somos confrontados com tantas que não conhecemos que nos apraz dizer que dentro de nós existe sempre algo desconhecido, que neste dia, alguém irá aparecer, falar e dizer qualquer coisa que por nós nunca foi ouvido, a isto chamamos crescer, aprender e respeitar atitudes e comportamentos que desconhecidos podem pronunciar a melhor razão do saber.
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