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A mostrar mensagens de 2013

Prometo

Prometo ser a pessoa que não sou. Prometo confessar o que jamais pensei dizer. Prometo calar-me perante a sabedoria. Prometo perder-me na tua beleza, recolher a casa nos braços do teu abraço. Prometo entregar-me a essa dança inventada por ti. Prometo o dia que vai acontecer, o dia que vou deixar viver na eternidade, o ómega. Prometo, numa tarde de sol, perante o mar e para lá da rebentação, perguntar-te até onde achas que conseguimos ir? Prometo não querer saber de onde veio, de que é feito e de quem é a falta. Prometo ousar da emoção e parecer ingénuo. Prometo olhar-te até esculpir a tua alma, até encontrar o teu verbo. Prometo o vestido curto e perder-me no nó da saudade. Prometo reinventar o prazer de navegar o corpo, lançar a âncora e dobrar o bojador na maré calma do teu precipício. Prometo o desejo e o silêncio, o que advém daí e o que sempre por ti senti.

O outro amor

É o outro amor, não aquele que se vê, que se toca, que se pode sentir e até viver. É o outro, o outro amor. É aquele amor que conhece de costas, que vê de olhos fechados e que toca sem nunca ter tocado. É o amor que ouve o silêncio, que vive sem ter provado da vida. É o outro amor, aquele que todos guardamos de todos, aquele amor que é só nosso e que só nós o conhecemos. É o amor verbo, o amor que não quer colo, o amor das três da tarde. É o único amor que é capaz de ser o outro, o outro amor.         

Se é saudade

Saudade, se é, que seja forte, intensa, violenta e excessiva no sentir, que seja levada até às lágrimas ou até à profunda verdade. Se é saudade, que seja doce na admiração, que seja simples de gestos e vontades, que seja em forma de silêncio ou que se pronuncie num grito inaudível. Se é saudade, então que seja cúmplice no corpo e no desejo, que seja de orgasmos mútuos e proibidos, que seja a beleza do que é belo, o suor do sofrido e a palavra da solidão. Se é saudade, que seja no tempo eterno do abraço, no enigma do beijo e na litigância dos sentidos. Se é saudade, que seja o presságio comovido do olhar que deixa escapar a dor e irrompe do coração uma espécie de tumulto. Se é saudade, então que seja um texto escrito a quatro mãos, que ame sem cura e sofra sem remédio. Se é saudade, que seja de ti e de mais ninguém.   

Somos mais...

Como se a vida me desse a faculdade de tal intento, como se o teu olhar fosse desaparecer da minha vista ou o teu cheiro do meu pensamento, como se os bolos de chocolate fossem isso mesmo, como se o grito fosse feito de eternos silêncios ou o desenho fosse tudo o que um lápis pode fazer. Somos mais, somos mais que palavras que estão por dizer, somos mais que o abraço que ainda está por acontecer ou o sorriso que ainda está por abandonar, somos mais que o adormecer, somos mais que o querer, somos mais que a tempestade ou o sabor da verdade, somos mais que o sentir, somos mais, somos muito mais do que podemos parecer. E, ainda assim, até quando, juntos, vamos conseguir viver um sem o outro...   

Já não sei

Já não sei porque apagas a luz tão cedo. Já não sei porque te deitas de olhos abertos ou porque esperas por mim para te cobrir. Já não sei onde pões esse beijo que procuro antes de to dar ou esse desejo que sentia antes de desejar. Sei que, afinal os anjos têm sexo entre eles e, às vezes, comigo. Sei que, escasso é o corpo para tanta vontade e doce é o caminho que perturba o sabor.   

Fim do dia

Por isso, no final de cada dia, recolho ao silêncio, e nos braços da quietude, retempero o que sou e o que exprimi, entrego-me a mim mesmo, em rodopios inventados que vou compondo numa memória de incertezas. A vida, em si própria, é muito mais do que aquilo que é capaz.

Deixas tanto de ti em mim.

Deixas tanto de ti em mim. Deixas o teu cheiro, a tua natureza, a pele que ainda sinto. Deixas o gosto do abraço. Deixas o apelo e o sonho desgovernado. Deixas o corpo que chora e a história mal contada. Deixas a sombra e a certeza. Deixas o nada e o tudo para sempre. Deixas o teu mundo tão longe. Deixas a tua voz, o momento e o canto da tempestade. Deixas o mar sozinho e o céu tão perto. Quanto tempo fomos, quantos dias, quantas estradas e quantas vidas serão, quantos desertos e quantas metades, quanto silêncio e quantas vontades. Ninguém sabe, ninguém tão perto. Sei de ti e sei que deixas tanto de ti em mim. Isso basta-me.

Exactamente

Hoje, quero saborear as palavras que não escrevo, quero senti-las sem que ninguém perceba, quero vivê-las sem ninguém por perto. Hoje, quero-te exactamente no lugar onde estás...

Finalmente

Em torno de ti rodopiam os meus sentidos e regressam as vontades figuradas, no teu colo nasce um sedento desejo, uma encenação do teu vestido curto, um modo de estar onde o medo e o amor se conjugam. Finalmente, fechas os olhos e deixas em mim o momento que sobra das palavras que se não dizem.

Mil vezes

Mil vezes o coração bate desesperado, outras mil inquieto e mil vezes magoado, mil vezes ele bate por amor e outras mil por indiferença, mil vezes ele bate inutilmente e outras mil arrependido, mil vezes ele bate extasiado e outras mil mimado e acarinhado, mil vezes bate em silêncio e outras mil apaixonado, e depois de tantas mil vezes bater, chegamos a números que não cabem numa vida.   

Mais perto

Estou mais perto de ti, estou com o sentido no teu olhar, no teu ser, estou a caminho do teu adormecer. Fica a palavra por dizer ou o gesto por ter, fica a música por ouvir ou a verdade por querer, fica o sofá vazio e a cama por fazer. Só o sentimento do amor é quem tem a coragem de se fazer ao caminho para ter o direito de chegar a si mesmo e poder partir de novo.

Lágrimas

São as lágrimas que ocupam o meu desassossego, que me deixam capaz de nada dizer, que me levam a virar a cara para o outro lado porque sinto o travesseiro molhado, são as mesmas lágrimas que me fazem levantar a cada dia, que me fazem olhar o escuro do meu quarto sem qualquer medo. São lágrimas que me deixam a sós na minha solidão. São lágrimas que caem sobre o meu rosto e me fazem provar o seu gosto. São lágrimas que amam e que são amadas, que vivem e que morrem em mim. São lágrimas que fazem amor comigo, que nunca deixam o meu corpo, que escorrem delicadamente sobre ele até à certeza da sua efémera existência. São lágrimas que vivem breves segundos como únicos, como o instante em que tudo acontece. São lágrimas sem nome, que só aparecem na presença desse amor que vive dentro de nós.   

Princípio

Descubro, enfim, que estás aqui comigo, não te espero mais porque te consigo ver, nesse ponto de origem, no antes do tudo, no antes da vida, do som e da cor, para vires até ao meu abraço. Hoje perdi-me a pensar nesse antes, onde já estive, e do qual só tenho um ténue sorriso, onde anunciada a noite, fica o deslumbre da tua janela despida de pedaços de lua cheia, de um modo que o silêncio e o sentir de ti se alimentam, de um modo que em ti o rio corre sem margens e solta-se em delírio o sussurro da entrega. Aparenta ser um desfile de cores que desafiam um súbito mar de emoções, temperadas com olhares e sorrisos de palavras nunca ditas. Poucas fracções de segundo e segue-se o silêncio, um cheiro agridoce invade-me os sentidos, e um manto de afecto desce em mim, é o preâmbulo da vida. Se é facto ou mera ilusão, não sei dizer, é apenas o que vi nesse testemunho de indagar o que me antecedeu. Na tua aproximação eu voltarei a sentir esse antes, poderei vê-lo e até tocá-lo, a essência desse...

Desejo

Diga-se, enfim, que o amor é apenas aquele que descobre e faz do desejo o simples desejo de ser vivido. Diga-se, ainda, que o corpo é o cerco, onde sitiado esse desejo, me perco, delicadamente.

Rumor

De nada adianta querer chegar à fala contigo, entre gritos dolorosos e sentires nunca vividos, apenas nos chegam os rumores do nosso infinito silêncio, e isso basta-me.

Até

A beleza da tua coreografia, a sedução que transmites no olhar, o delírio que esvoaça por entre os dedos quentes da brisa não é mais do que a razão que em mim eternizas, diante de ti perfilam exércitos apaixonados, mistérios que o tempo seduziu, momentos que só a essência pode sentir, daí o arrepio, a sede da alma, aquela que agasalhamos com roupa quando nos despem com o olhar. Não tens medo, és a síntese dos anos, és o que vem e o que foi, és a palavra perfeita que traz consigo a força do que diz, és uma linha sem traço, um desenho sem tela, um juízo sem mágoa, és o sorriso do sofrimento, és a resposta e a diferença na inquietude, és o romper do equívoco e o rasgar do silêncio, não há muitas outras razões para estar vivo, a não ser para te ver viver…

Tela

Na tela onde aos poucos nos vamos dando forma, partilhamos os sentidos, os silêncios, as vontades e os enigmas. O dia vai nascer de novo sem nunca saber para onde vamos, porque de onde quer que venhamos, é dentro do desenho que chegamos a tempo ou fora de tempo.

Domingo

Onde estás tu que não te vejo, onde escondes esse abraço que suspiro, que torna santo o meu culto desconhecido. Recusas o texto do teu olhar e namoras a verdade das palavras que só se escutam no silêncio, buscas no adjectivo uma forma de murmúrio e agarras o verbo numa fala descuidada. Desejo esse teu templo perdido, entre os cachos da lua cheia e a imensidão do infinito, ia jurar que ainda sinto o rasto do teu cheiro, mas o que mais impressiona neste sufoco de doces aflições são os domingos da vida.

Acordo

Fiz um acordo contigo que não me obriga a amar-te além do amor que sinto por ti, desde que me arrependa   antes da morte, não posso revelar os pormenores mas tu aceitaste, desde que eu morra antes do arrependimento…

Eterno

Já são estas horas e o meu mundo continua acordado, ouvem-se da harpa melodias intensas de assédio e provocação, as minhas pernas arqueiam e tremem sem nada poder fazer, dobra-se o corpo sobre mim mesmo e o silêncio volta a chamar, a clamar por um naufrágio de doces e intensos abraços, por um olhar que alimenta o sossego e os sentidos, por um sorriso que atravessa a rua sem darmos por nada, sob a forma de uma sombra que nos vela o sono ou de um olhar que faz descer escadas,   separando, delicadamente, o corpo e a alma não fosse o nosso desejo querer juntá-los no tempo,   passageiro ou eterno.   

Impressiona

Gosto da ideia, do momento em que tudo pára para acontecer, gosto do tempo em que tenho tempo para te ter, porque sabes quem sou e o que sou para ti, sem dúvida ou incerteza, é em ti que encontro o caminho, é sobre a tua provocação que enfrento o imprevisto e conduzo o que me é destinado, porque nenhuma beleza é perfeita e o que mais impressiona é o calor que se faz sentir debaixo dos teus lençóis.

Sedutor

Surge das cinzas uma espécie de palco trágico, onde nenhum rosto se reflecte e nenhum olhar se repete, emana o corpo que levanta as mãos e repousa sensualidade, confesso-me calado, perdido no teu encanto, recolhido nos teus braços e na vontade que não me basta, são estas palavras que trago e que segredo, são as mesmas que agarram o teu desejo numa fala descuidada, fascinante e sedutora.

Beijo

Este é o momento para o dizer, porque não, o beijo, como sonho com ele, como o desejo, como o venero, nunca o vi, nunca o sofri, mas quero-o e acima de tudo, quero-o pelo gosto, pelo medo,   pelo aconchego, quero-o pelo sentir, quero-o como quero esse abraço que me desnuda e aquece o meu frio, quero esse beijo que me deseja e me despede, quero esse beijo que me faz fechar os olhos, que adormece na esperança de te olhar enquanto sonha, quero o beijo que o corpo teima em ter, que a razão permanece, o beijo da minha vida, o beijo que acorda os sentidos, que sorri na angústia, o beijo da verdade, o beijo que não se esquece, que fica, que eterniza, que vive dele próprio, quero esse beijo, um só, basta-me um só…

Saudade

Perdido entre o sorriso e a verdade das verdades, cruzado que está o mar, falta descobrir o mundo e falar mais alto, falta saborear a tua onda que traz o desejo e leva a saudade, recado   e gesto de um corpo de respeito caminhar, imponente olhar e toque suave daquela melodia que só por nós consegue ser ouvida, cadeira vazia que espera por ti e pela tua vontade, abraço que lembra e aperta a força do nosso silêncio. Semântica, significado, abalo ou precipício, como se de um lado se tratasse, ausente do meu oposto que estou, arredado dessa outra metade que me fascina, que ainda não pode vir, que tarda. Assim sinto e sou, longe da palavra, da tua palavra, dessa que sai dos teus olhos sem nada dizeres, impaciente na nossa omissão e paciente do nosso querer, assim espero e deixo o livre arbítrio desenhar, aqui e agora. Sempre.

Segredo

Tenho uma confissão a fazer-te, um segredo que quero que guardes, que quero deixar em ti, não quero que me interpretes mal, não quero melindrar-te ou preocupar-te, é simplesmente um segredo, daqueles que todos sabem mas que ninguém admite saber, daqueles que só alguém muito especial sabe, daqueles que só depois nos apercebemos que conhecemos tanta gente especial, mas ainda assim, vou contar-te um segredo, lembra-te de não o partilhares, nem comigo. Senta-te aqui ao meu lado, fecha os olhos e escuta, descobre o amor que pode vir deste silêncio que estás a escutar, sente a força de um abraço que não estás a abraçar, percorre esse caminho que está por descobrir, alimenta este momento na tua vida, abre o coração e deixa-te conhecer, deixa-te apaixonar pela tua beleza, mostra ao saber a ponte que atravessa os dois lados do teu sorriso e desvenda o segredo, o tal segredo que todos querem saber, esse mesmo, o que acabei por não te dizer…

Demora

Olhar os teus olhos, ouvir a tua voz sem perceber o que dizes, retrato sem rosto com sentir de saudade, mistura de limão e canela, o teu encanto, sentido o amargo da distância e o silêncio do desejo, entrar no pensamento de uma dança, sem recusar ou recuar, estou aqui porque não posso estar em mais nenhum lugar. São as palavras, os gestos, os olhares, as memórias de um presente que não se esquece e de um passado que permanece, o valor da música e a força de expressão, não encontro espaço ou porta que se abra, encontro a janela do tempo e o mesmo tempo que demora em chegar, mais sabor, mais pronúncia, ser diferente na procura da diferença dos outros, são páginas de um livro sem elenco, sempre e para sempre…    

Presságio

Sou eu mesmo, esse desenho feito de sombras que me perseguem e que desconheço as íntimas e verdadeiras provocações, não será por acaso que o lápis toma o caminho pelo desconhecido, e de papel em papel se projecta num presságio de silêncios mal amados e desconfiados pelo medo. Sou eu, entre ti e tu, sempre sobre uma linha que se confunde com um destino, sou o desenho e o que o desenho é de mim, que pode incluir tudo, até este tempo ou um outro qualquer, até uma saudade que não vou admitir ou um pensamento que não quero demonstrar. Porque não um novelo de cansaço, um corpo adormecido ou uma esperança esquecida. Sou eu, um exército de raros momentos que perfilam a devoção até chegar outra palavra, outro sujeito ou outro verbo, atá ao dia em que a dor deixa de doer e o desenho deixa de escrever. 

Quatro ventos

Perdi a voz na vida, uma razão de quatro ventos e dois gritos que não deixam sair as minhas asas, o caminho que não é o castigo, é a ilusão de um silêncio que acaricia o céu e esquece a dor. Invento horizontes e cubro o adormecer com um dia frio de vitórias e gostos desmedidos. Quero viver o inesperado e saber que o simples é vivido sem preconceitos, com gratidão e amizade, quero pintar as paredes que me rodeiam de cores vivas, gestos nobres e momentos únicos, quero os teus olhos, quero dizer mais e falar menos, quero esquecer a luz e viver na penumbra do diz-me tu, diz-me tu se a solidão faz pensar e ver melhor na escuridão, diz-me tu onde estão os meus passos, diz-me por onde vão, e as memórias, e as páginas em branco, quem as vai escrever, quem as vai ler. Só quero afastar a tristeza de um coração sem cor e sem melodia, quero dizê-lo baixinho, quero a tua poesia e a tua alegria, quero soletrar bem devagar as palavras que nunca te direi, quero soltar os mesmos quatro vento...

Desarrumação

Sinto a tua desarrumação, a angústia do teu silêncio, a verdade do teu olhar, o aceno à janela, a casa fresca numa tarde de verão, o chocolate negro e amargo limão. Saúdo as palavras que não entendo, o mergulho que ainda não tentei, vivo a canção que ainda não sussurraste para mim, a magia de um gesto e o telefone que não toca, a carta que ainda não me escreveste. Sinto a falta de te olhar um passo à frente, da inocência da culpa e da verdade que escondes, sinto falta do lápis com que desenhas o meu sabor, do sossego que preserva a alma, da escuridão que relança a luz do próximo dia, do ego onde pernoitam os anjos e os demónios, sinto falta do estrangeiro que trago dentro de mim, sinto falta do pedaço de corpo que repousa no teu ombro e da forma carinhosa e poética onde desaguam os nossos desejos, sinto falta do medo que se esconde atrás da porta. Não é relevante saber o caminho, relevante é saber como caminhar, relevante é sairmos do limbo, evitar o purgatório e merecer a eternidade...

Em mim

Quando veio, veio num olhar e num gesto vazio, veio sem pedir e sem levar o medo, falei-te ao ouvido e disse-te para não partires, nunca mais. Hoje, cada gesto, cada noite, cada luar és sem mim, és tudo, abraço-te como se fosses vida em mim, como se fosses tempo no tempo, um beijo que roubo no pensamento, um beijo perfeito e de perfume intenso, uma presença que voa em cada gesto, um olhar que não sei se conquistei. O momento, posso eu estar longe ou perto, aqui e agora no teu mundo, porque entras no meu sonho e contas histórias, vives memórias para no fim voltares a partir sem me levares, está frio e o teu beijo deixa-me ao alcance, quando te vais, ficas longe, e é longe viver em ti, fica longe esta melodia que escrevo para ti. Podes ser o deserto ou a penumbra, podes ser o silêncio das estrelas do meu quarto, podes ser tudo. Trazes a tempestade e os ventos de areia, ficas perto da margem, perto da distância, agarra-me, deixa-me em ti este sentir, deixa em mim o tanto que tens de ti ...

Sinto falta

Sinto falta do tu, sinto falta de te dizer, sinto falta de te ouvir e de te ler. Sinto falta do passado e do presente, sinto falta do abraço e do saber, sinto falta de te ver nascer, sinto falta de ouvir o teu silêncio. Sinto falta dos teus olhos e do teu aperto, sinto falta das palavras que nunca me disseste, sinto falta da tua justiça e da verdade que trazes no bolso. Sinto falta de caminhar ao teu lado e de ouvir o barulho da chuva, sinto falta de me habituar ao escuro e do teu cheiro. Sinto falta do nosso encontro enquanto sonho, sinto falta de não te esquecer, de me lembrar que te lembras de mim, sinto falta de atravessar a rua e olhar o outro lado do rio. Sinto falta da cadeira onde te sentavas, do teu lugar na mesa, sinto falta de te ver de olhos fechados, sinto falta de te viver, sinto falta da conquista e do juro qualquer coisa, sinto falta de não pertencer, de simplesmente ser. Sinto falta do verbo e da escola, sinto falta do caderno aos quadradinhos e da professora, sinto ...

Palavras

São as palavras que fazem o que querem de mim, são reconfortantes, amorosas e brutais, são as palavras autênticas e discretas que nos fazem sorrir e sonhar, são recreativas, muitas surrealistas com ar satisfatório, empolgantes e extremas, são únicas, arrasadoras e estonteantes, conseguem ser provocadoras e controláveis ao mesmo tempo, inconsequentes e inesgotáveis, são novas e intrigantes no seu propósito, instáveis e com sentido ideal, muitas angelicais e gostosas, majestosas e complexas, conseguem ser doces, incontornáveis e calorosas, encantadoras, são presente no intemporal e inigualáveis na importância, são marcantes e efémeras, lindas e inesquecíveis, são fantásticas e esmagadoras, um aconchego delicioso, sensuais e confiantes, são sempre eternas e secretas, pensativas com ar inspirador e de devastadora emoção, são marcantes para todo o sempre, felizes, saborosas e imparáveis, são mesmo assim, são as palavras que nunca acabam, que nunca deixamos acabar, são o retrato do pensame...

Podes ser...

Podes ser o espectador ou então o protagonista, podes ser o rebelde ou o sensabor, podes sempre mostrar animosidade ou então mostrar um sorriso, podes contestar ou então construir, podes copiar ou ser copiado, podes seguir o mundo ou então fazê-lo seguir, podes olhar para a vida ou então deixar que a vida olhe para ti, podes olhar o mar ou então mergulhá-lo, podes pisar a areia ou então construir castelos com ela, podes ter relógio ou então um horário a cumprir, podes ouvir o grito ou então deslumbrar o silêncio, podes viver no passado ou então estar um passo à frente do presente, podes ter um segredo ou então deixar que o segredo te encontre, podes ancorar o barco ou então deixar que o mar o guie, podes ser alguém completamente indiferente ou então ser alguém que faz a diferença, podes ser um discurso bonito ou então uma acção anónima,   podes ser mais um ou então o único, o importante é que tens sempre a oportunidade de ser…               ...

Momento

Novos mundos, novas realidades, novas experiências, novos conhecimentos, novos desafios, novas aptidões, novos compromissos, novos objectivos, novas rotinas, novo respeito e novo sentido humilde. São inúmeras as situações e caminhos que podem acontecer de um dia para o outro, são estes os momentos que nos fazem perceber quão pequeninos somos, quão vivos estamos, quão desconhecedores somos de uma realidade que se vive e que se vê. São vidas e sonhos distintos que nos fazem acreditar, viver e expressar o que de mais puro existe no nosso coração. São momentos únicos, de grande crescimento moral, de grande respeito e admiração, são estes os momentos que engrandecem a palavra ser humano, são estes os momentos que cansam o corpo e retemperam a alma, são estes os momentos que dão valor ao que consideramos insignificante e secundário, são estes os momentos de grande gratidão, de perseverança e dedicação, são estes os momentos que fazem a diferença entre a vida e o estar vivo. Obrigado por te...

Recomeço

Amanhã será um novo dia, um novo começo ou um novo caminho para o fim, será simplesmente um amanhã, um amanhã que vai fazer nascer e um amanhã que vai fazer partir, um amanhã que vai transformar, um amanhã que vai realizar, um amanhã que vai sorrir, que vai chorar, um amanhã que vai aprender e também ensinar, amanhã estará frio para uns e quente para outros, amanhã será o princípio mas também será o fim, amanhã será o melhor dia, o memorável e um dia para esquecer, amanhã haverá verdade mas também mentira, amanhã seremos melhores que hoje, amanhã seremos agradecidos, amanhã vamos conseguir, vamos ultrapassar, vamos superar, amanhã vamos viver e vamos reconhecer essa dádiva, vamos vencer a nossa própria vitória e admitir a nossa derrota, amanhã vamos lembrar e recordar, amanhã vamos esperar e vamos alcançar, amanhã vamos beijar e também abraçar, amanhã vamos sentir o desejo e o arrepio, amanhã vamos escrever e vamos pintar, amanhã uma nova página se vai abrir, porque amanhã nada nos v...

Vida

Foi este o dia escolhido, foi hoje como podia ter sido outro qualquer. São momentos como este que me fazem duvidar, não sei se chore, se ria, se fique triste ou se me alegre, sei e tenho a certeza que só existe uma palavra para o descrever, obrigado. Obrigado porque consigo olhar a cor do céu, obrigado porque sinto o arrepio, o deslumbre, a saudade e a paixão, obrigado pelo silêncio e pela vontade desmedida, obrigado porque sei que gostas de mim,   obrigado porque reconheço a amizade que tens por mim, obrigado pelas palavras que escuto e por aquelas que também leio, obrigado pelas oportunidades que me vais concedendo, obrigado por me deixares ouvir aquela música, obrigado por me manteres de pé, obrigado pela força e pela coragem, obrigado pela tua voz e pelos teus conselhos, obrigado pelo abraço e pelo aconchego, obrigado por estares sempre presente, obrigado pela verdade e por me deixares reconhecer a mentira, obrigado porque me ensinaste a desculpar, obrigado pela compaixão e s...

Transformar

Certo dia disseram-me que a nossa vida devia pautar-se na transformação de tudo o que é menos bom em bondade. Nesse momento, e com estas palavras, aprendi que o objetivo de aqui estar teria que ser outro, que a palavra tem um dom, que o seu poder é enorme para o mal, assim como para o bem. Aprendi que não podia deixar de ser cuidadoso em relação ao que digo, pois as palavras que profiro demonstram o profundo do meu coração. Aprendi que é nos outros e com os outros que me posso encontrar, aprendi que a morte do próprio eu ampliava a ideia do significado da vida, aprendi que a união fortalece, aprendi que a razão nunca está só, aprendi que o silêncio também se ouve, aprendi que o arrependimento pode salvar, aprendi a escutar a alma, aprendi que a gratidão deve ser olhada, que os capítulos escuros da vida são uma aprendizagem, aprendi que tudo tem duas leituras, aprendi que a incapacidade de escolher o meu destino é a maior mentira do mundo, aprendi que o simples é sempre o mais belo, a...

Hoje

Hoje, o tempo que parou e que ficou em ti, o tempo que não tive para agradecer, o que te perdi, os sorrisos que não te mostrei, as lágrimas que não viste cair, a razão que sussurraste nesse tempo, o teu tempo. Mulher, Mãe, Avó e Bisavó não por esta ordem mas por outra qualquer, ternura, vida, memória, força incontornável, sempre de braços abertos, o teu nome, a tua luz, a tua presença, a tua falta…, de madrugada, a cevada acompanhada com torradas de meiguice e de palavras que nos alimentavam a alma e nos faziam crescer, sorrisos e apertos de mão inesquecíveis, olhos atentos à força do mar, os mesmos olhos meigos e decididos, combatente de causas sempre justas, eterna amiga e confidente de tantas almas, escudo e muralha de tanta gente, foste o acontecer do caminho que traçaste, foste o sentido do amor que deste à vida, foste o que ficou em nós, e continuarás a ser...,sempre.    

Ele

Sou eu, nesse copo meio cheio para alguns e meio vazio para outros. Sou eu, esse desenho feito de sombras que me persegue e que conheço de outras aflições. Sou eu, que realço por palavras um prenúncio de silêncios mastigados de angústias e medos. Sou eu, aquele que olha o retrato e que lembra memórias ao acaso. Sou eu, saciado sem o gosto e sem o abraço de um beijo apertado. Sou eu, aquele que soma as vezes da indiferença, aquele passageiro em trânsito, o ícaro da ousadia. Sou eu, que renovo a volúpia e agito a insinuação. Sou eu, que adormeço à deriva e que sossego sem colo. Sou eu, que admito a saudade mesmo de algo que não existe. Sou eu, que escondo o desejo na alma despida. Sou eu, que me confesso calado perante o que é belo. Sou eu, que não quer saber o motivo ou de quem é a culpa. Sou ele, confesso…     

Viva mais

Questione? Erre! Ame mais. Beije intensamente. Chore com vontade! Ria até faltar o ar. Reinvente sentidos. Mova pensamentos. Partilhe. Faça aquilo que mais teme. Dê um grito! Importe-se menos. Seja fraterno. Junte os amigos. Mude de penteado. Ouça música. Leia mais. Observe mais. Fale menos! Mude de opinião. Lute pelo que acredita. Dê voz ao coração. Namore. Sonhe acordado. Cuide de si. Trate dos outros! Apaixone-se… Abrace um desconhecido. Tempere sem sal! Mude mais uma vez de opinião. Olhe os seus olhos! Descubra a sua força. Desarrume as ideias. Pinte um quadro. Deseje loucamente. Não se desiluda com o espelho. Convide e apareça sem ser convidado. Telefone-lhe! Arregace as mangas. Escute o silêncio! Tire o relógio. Viva a memória. Sinta saudade! Seja o Actor principal. Peça desculpa! Ofereça um sorriso. Escreva o seu destino, dê o próximo passo. Não tenha medo das palavras...Viva mais!!     

Quero ser

Passagem de um instrumento musical que deseja a melodia da emoção, que retrata a tempestade calma e devolve ao sol a sua luz grandiosa. Que seja esta a passagem da hora, o navio de espelhos, a paisagem das palavras que estão interditas ao meu pensamento, seja este o desejo da criação e do silêncio que não é mudo. Por amores e desamores, entre as primaveras e o agora, entre as reticências e os pontos de exclamação, caminha este pequeno mundo que espreita o sorriso sem pensar no ponto final. Eu sei que não te perdi, eu sei que o teu olhar ilumina este momento, esta frase que não acaba em mim, em ti, quero ser a luz que não sou, quero ser o tempo que ainda não acabou.

Enigma

Não é muito relevante pensar se é o corpo o caminho mais fácil das mãos quando na procura do coração questionamos os sentidos. Não é muito perturbante saber se a paixão é o acessório do olhar ou se é na dor que intentamos o prazer. Não é muito inquietante saber de nós se o que sabemos de nós partir da sabedoria dos outros. O nosso caminho tem sempre escolha, é essa escolha que define o conceito de felicidade, nada é mais simples de tão enigmático.

Podemos

Não há como nos movermos sem ocuparmos o silêncio e acolhermos esta singularidade de estarmos vivos. Podemos ser a ilha dos amores, podemos ser mais fortes perante as adversidades, podemos vencer e orientar o desejo, podemos traçar tempestades só para ter o prazer de as superar, podemos velejar pelos escritos, podemos vestir a alma de branco e usar roupa escura, podemos ouvir o coração num abraço, podemos alimentar os sentidos com o sentir, podemos ouvir a música já esquecida, podemos agasalhar a alma com um admirar despido, podemos ser o momento, o instante que dá   sentido á fala, podemos retrair o medo e esculpir no olhar do próximo esse amor que carregamos dentro de nós, podemos...

Inextinguível

Na procura da quietude. Porque a minha vontade tem o tamanho do meu mundo. Porque o meu alento determina a passagem pelo tempo. Sou próprio de lançar um grito dentro de mim, um grito que é capaz de arrancar saudade da verdade, que exclama palavras em todos os verbos, que trespassa a lua. Eu sou capaz de acontecer através desse grito, contra tudo que se depara perante mim, contra tudo e todos que se levantam no meu caminho, até contra mim próprio. Eu quero. Quero muito desviar este desânimo do meu texto, de vencê-lo mais uma vez e uma vez mais, sempre. Porque a minha vontade descobre, faz-me emanar, ressurgir, porque a minha força é inextinguível.

Tesouro

Preenchemos os nossos dias de razões fúteis e palavras sem propósito, posições extremas e a maior parte das vezes mal entendidas, falamos alto e dizemos mal de tudo e de todos, ridicularizamos o que achamos incorreto e esquecemo-nos das nossas imperfeições e defeitos, somos humanos e gostamos de o ser, “fala por ti”, dizem os que me estão a ler, verdade, eu falo também por mim…, no entanto, existe... um tesouro que cada um de nós terá de encontrar, aquele que ouve o nosso silêncio, que não nos deixa partir sem o seu bater, que está apegado a nós, que destina a nossa vida e que, ainda assim, poucos são aqueles que seguem o caminho por ele traçado, o caminho da consciência e da felicidade, da generosidade e fraternidade, da ambição e da coragem devidamente medidas, da face e da outra face, do desejo e da verdade. Na maior parte das vezes, vamos ao encontro do mais fácil, e o mais fácil é olhar o mundo através, somente, dos nossos pequeninos olhos, e quão pequenos são os ...

Quatro mãos

Existe este texto a quatro mãos que ama sem cura e sofre sem remédio, existe a confissão calada, a beleza do sentir e a serenidade do querer. Sou confrontado com a fé e com um saber que está condenado nos esquissos da inocência, desenho com lápis por afiar, melhor, por aguçar, um traço sem limite e com limites a acompanhar. São mãos já consumidas, vividas, sujas de palavras que as foram moldando, mãos enrugadas de infinita misericórdia, mãos que tocam e expiam o resto do tempo, mãos que acenam e que encomendam a felicidade, mãos que mostram o caminho e pelo caminho vão sentindo as feridas do desenho, são mãos que apertam o desejo de amar e que por amor se conseguem largar, são quatro, as mãos...    

Indeclinável

No final do tempo, já depois de fechar os olhos, depois de entender o escuro e depois de poder ler a alma, será para mim indeclinável dizer que o silêncio foi a forma mais bela, senão única, de entender o amor da vida.  

Os dois mundos

O laço infrangível que consegue unir os dois mundos, que torna apócrifa a fronteira entre a vida e morte, e possível o seu encontro de todos os dias. Tudo pode continuar como está, numa espécie de limbo, de reino intermédio e esbatido, tudo podia continuar assim se o amor nunca tivesse aparecido, mas ele veio e isso alterou tudo…deixou que o silêncio tomasse conta da beleza, deixou-se levar pelo indomável espirito da aventura, deixou-se contagiar pelo inexorável sorriso, deixou um brilho único, irresistível. Veio para mostrar o carácter ilusório do paraíso em que pensamos viver, veio para obrigar a escolher entre este tempo e o outro, veio para dar a conhecer, com maior lucidez, a ponte que atravessa os dois lados da existência, veio com essa força dominadora, veio para ficar, veio para não deixar desistir, veio para nos escutar, veio para nos ler, veio porque tem um nome e uma força avassaladora que só a ele conseguimos dar, veio para fazer tremer e chorar, veio simplesmente. O amor...

Ainda sobre o silêncio

Ainda sobre este silêncio, aquele que em mim é apaziguador, que traz no pensamento um delirante e intenso grito, que é emotivo, marcante, único e essencial, que é destemido, sentido e sereno, que é ofegante e apertado, sincero e deslumbrante, esse silêncio que, simplesmente, considero perfeito, que refaz uma alma que já pouco vacila num coração disposto a aceitar as contrariedades da vida. Esse silêncio que vê os cartoons como os mais belos retratos do exemplo e dos olhos entorpecidos, que está presente no estigma, que não censura. O silêncio que faz sentir as borboletas no estômago quando se aventura no desconhecido. Mas porque devo silenciar este ensejo se o agora pode ser a única verdade que conheço?         

Olhares

O olhar que pode intimidar, que pode fazer viver, esse olhar que descobre o adormecido, que vive o desconhecido, o olhar sincero, feliz e único que se sente no coração, o olhar que une duas almas, que olha de olhos fechados, o olhar que conhece as costas, que passa pelas palavras, que lê nas entrelinhas, o olhar que comove, que não adultera, que não mente, o olhar da beleza e da metáfora, o olhar que descobre o sol no caminho de uma folha caída, o olhar amadurecido e de paladar acanelado, o olhar escuro da noite munido e perfilado de anúncios presunçosos, o olhar inquieto da intriga, o olhar que nunca foi visto, o olhar sofista, o olhar da arte e do domingo em descanso, o olhar nómada e fascinante, a força e a cor de um olhar meigo e doce, a alma de um olhar que se perde num vestido curto ou num sabor salgado de uma qualquer lágrima de saudade, que dizer do olhar, desse olhar, do olhar em silêncio, aquele que perturba e que tudo significa, aquele que jamais se esquece, aquele...

Equivoco

Não tenho qualquer intenção de esculpir palavras ou desenhar pensamentos, não tenho e jamais terei o prenúncio de fazer repousar as palavras antes de serem ditas, comovo-me com a felicidade de uns olhos que choram de alegria, intento nos passos a comoção da partida e o gáudio da chegada, repouso as mãos nesse mapa de sentido trágico que comanda o caminho do horizonte, nada acontece ao acaso e o acaso acontece por nada, até para lá do olhar, no palco desse trágico e difuso corpo que não vejo mas que sinto, nada é mais intenso que a intensidade de viver o que nunca foi vivido, nada é mais verdade do que a verdade desconhecida, que saudade dessa viagem que percorre o meu âmago e se deixa levar pelo mar de tormentas, que saudade do cheiro, do aceno, do aperto, do caminhar e do estar só, que saudade desse altruísmo que desfaz o culto do senso comum, que saudade da pintura, da tinta, do traço, do giz e do som sem importância, que saudade do travesseiro e da história que ainda não me ...

Escrever

Tirando o desenho de cores escuras e contornos delicados, aparece o índice que me reabre as páginas da vida e me faz aparecer no que leio mais à frente. Depois de me ver em plena leitura, sou confrontado com o amigo, esse que imagino e que me faz sonhar, esse a quem conto tudo, a quem não segredo nada, esse que me limpa a alma e me invade o coração, esse que conhece o que de mim é desconhecido, permitindo-me saber que o imaginário é infinito, não esqueço o preâmbulo e as partes ou capítulos em que o livro se divide. Em mim, escrever, é sempre poder levar a quem lê a sua própria história, escrever é tão somente criar, viver, sentir, é considerar o outro, é ter prazer no que daqui pode ser pensado, escrever é mais do que isso, é mais do que está a pensar, é mais do que penso, é ser, é soberano, é ter na página a frente e o verso, é saber olhar, é permanecer numa arte que identifica a alma como sendo minha e de mais ninguém, é como viver uma vida que é despojada do eu, se assim nã...

Amor

Metade, partido, assim como incompleto, como se existisse só um lado, só a cara, sem coroa, ausente que estou do meu adverso que invade o pleno de mim. Imperfeito, arredado dessa outra metade que me fascina, que já esteve e que já partiu, que tarda em voltar. Não sinto o perto nem o distante, é como um quase tudo, um quase mas. Suspenso, submerso de uma palavra, de um sinal, de um gosto, de um dia. A desassossego que vivo não se coaduna com a delonga desse sentir. Resigno-me da palavra, do olhar, de tantas outras coisas. Submeto-me ao pedido da vida, hoje e sempre, porque é sempre possível amar, mesmo se os outros não precisarem do nosso amor, porque esse amor sincero, esse amor sentido, esse amor que fala do coração é o único que é capaz de perdoar, de tolerar, de viver, de respeitar, de interiorizar e acima de tudo de prevalecer sobre todo e qualquer pensamento humano, porque é nesse amor que se deve ler o silêncio e é nesse silêncio que se deve falar de amor.

Tempo

Abertos que estamos a um mundo de constante mudança, saciados e projectados num caminho de revolta, convidados à esperança na certeza de um desejo que procura, desesperadamente, um rumo certo. Na manhã nos abra os horizontes de um anúncio de consolação em cada dia, porque quando a noite chegar, não temeremos, pois trilhamos caminhos de amor e concórdia, de plenitude e justiça, porque o vazio já cansa, é tempo de dizer ao tempo que o mar e céu não tem tempo, é altura de guardar o portador da voz, de ser humilde no convite, de encher os corações de rebuçados doces e cheios de vida, é o tempo para ter tempo de nós, é tempo de cantar o silêncio e dobrar o sol sobre si mesmo, é tempo de olhar o outro e viver o outro, é tempo de prometer a dança e o tempero das palavras, é tempo de brincar na estrada e cair na pedra dura, é o tempo da magnificência e do beijo sossegado, é tempo de um novo momento, é tempo de persistir na felicidade, é tempo...

Saudade

A saudade de ter no destino a crença de chegar a nenhum lugar, saber sem sequer o ter sentido, senti-lo como ninguém e vivê-lo porque faz todo o sentido, fica a tristeza triste por pensar nesta alegria que de tamanha tristeza se veste de um fado sem destino mas de lugar marcado na essência de um coração adormecido. Eterno e cúmplice nos teus conselhos para ser o que eu quiser e olhar a vista de um horizonte que deixou de ser criança e adormeceu no teu sorriso, assim vai o destino da saudade, a voz que não entoa, aquela que canta e lamenta sem ter sequer um qualquer lamento, aquela que ouve no silêncio uma voz que não é a minha e que canta por alguém cá dentro, a incerteza de que nada mais certo existe para além daquela grande certeza que é não estar certo de nada. Para onde vamos senão para o piano, para a melodia de um quarto vazio, de sombras e espaços em branco, não te esqueças de fechar a porta, a noite ainda demora e o teu segredo está guardado na metade de mim, esta sau...

Página

Caminho pelo livro que acabo de desenhar, não sei de quantas folhas é feito porque todos os dias viro uma e começo outra, sigo a intemporalidade do tempo, essa página que separa o ontem e o que sou hoje. O momento em que começo a linha que tudo transmuta, os dias, as horas e os segundos, este sentir que é eterno, intenso, repleto de mim e de ti, tudo numa simples linha, a linha que imagino como caminho e que acalenta a alma, perdi algumas palavras por esse caminho, mas quem hoje não caminha comigo, não lê metade de mim, porque hoje eu sou isto e muito mais, não estou sozinho no meu silêncio, e quem caminha ao meu lado acalma-me a alma. Quem está, encontra-me, quem esteve, ficou parado e não quis vir, quem veio, escuta os sussurros das minhas palavras, quem virá, a próxima página o dirá. Da natureza de uns e de outros se tece o argumento deste livro. Em uns e outros, a arte que se escreve e que se expõe, alada e complexa. Assim vão as páginas da vida.  

Delicada Intimidade

Do preâmbulo se faz a inquietação de uma beleza que se transforma em metáfora dos meus pensamentos, durante a lua cheia e perante uma presunção inquietante sou chamado a um sofisma que interpreta a arte numa delicada intimidade com a alma, sou chamado ao silêncio do meu incessante grito, sou chamado a uma pintura sem tela, onde a escrita e o pincel se cruzam na iniciação de uma matemática sem razão, onde o acordo obriga a uma urgência de afectos, de desenhos nunca desenhados, de testamentos nunca testemunhados, de exorcismos meditados, de ilhas por descobrir. Acerca de anjos, acerca do corpo, acerca do meu eu, acerca da origem, do tempo no desenho, do doce oculto em redor da babilónia, redonda que é a vida, fica a visão da dor, do ego e do desenlace. Relevo saber o caminho mais fácil, nada é mais simples de tão enigmático.

Ler-te

Leio-te porque sei que estás aqui comigo, sei que esperas, nesse ponto de partida, no antes de tudo, no antes da vida, do som e das palavras, para vires ao meu abraço. Leio-te nos olhos e no perfeito olhar, partindo da provocação que só o mistério da alma pode desvendar, perdi-me a considerar o antes, esse lugar onde já estive, onde já fui, mas do qual não tenho lembrança, se bem que lembrança não é a palavra certa, porque esse é, certamente, um lugar que tenho intrínseco em mim mas o qual não alcanço, e é nesse lugar que quero estar, naquele que posso, talvez, um dia encontrar.

Diálogo

No dia em que as palavras me faltam, sou o desenho encurralado na própria deixa do papel, apoio as minhas mãos neste livro a que chamo vida e tento desfolhar uma página de cada vez, tento ler o que o silêncio me escreve e escutar as palavras deste mudo e surdo sentimento, deste diálogo inconcluso entre a leitura e a escrita, o que resulta no extremo, é um manifesto de culto pelo belo e incomparável sabor a letras. Esta é a verdade que se lê e que se ouve de palavras que emergem do corpo e do desenho, palavras que não são mais que um pedaço de segredo, do que vi no teu olhar, é tudo o que afago para este dia sem cor e parco de sentidos. Hoje careço dos teus verbos, mesmo que sejam proferidos no sossego mútuo do nosso estigma, careço desse sentido que dás só ao olhares para mim pelo canto desses olhos, de uma intensidade sem fim, premente de dias, de segundos incessantes de infinito, dessa transcendência de nós e em nós, substância na forma e no ser, na sensualidad...

Alma

Esse grito que nos sussurra o corpo, o que agasalhamos com roupa quando alguém nos despe com o olhar, essa indisfarçável intuição que na impetuosidade faz do silêncio o elegante folhear do destino. Essa alma que solta sempre a mesma risada, que encurrala o papel entre o lápis e o saber, que é capaz de vir até junto de nós, capaz de levitar o sonho da escrita e a verdade da consequência, a mesma alma que procura na viagem o vestido certo para cobrir a lua de desejo, a mesma alma que tempera o mar com areia salgada, a alma que serve o fim da vida eterna, a mesma alma que pede desculpa sem nunca se desculpar, a alma que beija o desassossego dentro de um único e perfeito olhar, a alma que se recolhe e se perde na perfeição inútil, essa mesma...a alma.

Do cosmos ao sonho

Nesta manifestação de infinitos, percorri um caminho curto entre o cosmos e o sonho adormecido, de todo este movimento e num único pedido, parei o tempo e escrevi um texto em que nenhum dos dois quer saber de onde veio, de que é feito ou de quem é a culpa. Apresentam-se, ausentam-se, afagam, saúdam, ignoram ainda, concordam e discordam e no palco do extraordinário, sofrem, sofrem de inquietude porque nenhum dos dois imagina viver um dia de cada vez à espera de saber o que existe para lá deste silêncio. Por isto, no fim da cada linha, recolhem a casa e, nos braços desse querer, entregam-se à dança, desarrumam os desejos e aguçam o lápis, rodopiam encantos, confessam almas e sombras, alimentam sentidos e tempestades, imaginam a arte e o verso, porque a vida, esta vida, não lhes basta.  

Amargo

Instiga-me este amargo que se abraçou em mim, inquieta-me não tecer as palavras que possam reflectir esta urgência premente que ainda sinto e que estreita em mim a veemência da tua presença. Atento no teu silêncio, permaneço na verdade deste sentido. O que foi, o que ainda está por dizer, o gesto que ainda não vivi, o gesto que apenas sonhei, esse desejo que permanece e fica na consciência de um pensamento, na verdade de uma lua que nunca mais se deixa cair, que é sombra, mas que persiste camuflada na distância e no caminho que não quero impor, antes viver. É o que é, a simplicidade do carinho, do olhar, do ser, do estar, do realizar, do persistir, do perder, do voltar a ter, do agir, do querer transformar, do afecto, e de tantos outros prenúncios sem fim de movimento e de tempo, hoje, aqui e agora, nesse abraço que ficou por enlaçar e no beijo doce que entregas à minha face, nessa demora que é tão própria de ti, fica a banda desenhada, fica a fantasia demor...

Momento

Esse momento que perdura numa lágrima que não cai, numa voz que não é a própria, recortado no senso que nada tem de comum, invulgar, rigoroso e de olhar feito espelho, momento de sons e sílabas nunca compreendidos, os que com ele se envolvem, devolvem sem esforço a força de uma vida que se forma no dia-a-dia, que parte e que fica, para de novo partir e para de novo ficar. Assim amanhece a rotina que não é a rotina que nunca foi e que jamais o será, porque a palavra não cala e a pintura não apaga, o que posso eu desenhar não desenhando, o que posso eu escrever não escrevendo, é este o momento, o momento do pedido, escrevam por mim...

Medo

Embarco de novo nesse medo, o medo que reinventa o prazer de navegar este mar nunca antes navegado, distingo na perfeição o desenho que, repentinamente, se torna sopro de desejo onde tudo acontece. Um de nós sussurra "como é bom!" e o outro cai sobre as estrelas da espera e ruma para um vento desconhecido. Outro de nós admite "que saudade!" e desata as amarras do desejo e lança a âncora na lua. A nossa nova morada. É então dobrado o cabo da boa esperança a golpes de crateras e cometas, de meteoros e pontos de exclamação, depois, depois pintamos o corpo no mar da tranquilidade, sentimos um beijo sossegado e olhamos os corais cá de cima, liberta-se então o cheiro, impregnando tudo aquilo que é consequência, a interrogação persiste e o ponto final clama por entrar neste enredo sem fim, sem limite e sem verbo, onde a busca pelo acento é feita por adjetivos solitários , onde o medo realça a escuridão, onde o medo pega ao acaso na palavra e transforma-a no texto da vida...

A visão do sonho

Adormeço enquanto estás, deito-me na tua presença e sinto o calor do teu lugar enquanto me aconchego nos teus braços, cruzo as pernas nas tuas e ignoro os olhos fechados e a respiração que bate nos meus olhos, chego mais perto, sinto mais perto, como se a minha alma se unisse ao teu corpo desnudo de preconceito e de desejo, como se entrasse em ti e de ti soubesse o que ainda não descobriste, o que ainda não sabes, sob a forma da minha sombra, que me vela o sono, que me leva à intemporalidade e para não me deixar cair na tentação, separo, delicadamente, o meu corpo da minha alma, então fico com os olhos da alma e vejo o corpo entrar em ti, no teu destino, no teu ser, a união acontece e revela-se o olhar cúmplice, meigo e destemido, acontece o gesto, o toque, o sentir da pele aveludada, os nossos corpos numa única sensação desarrumam o desejo e enfrentam a dança do crime perfeito, sitiados os sentidos, tudo se torna infinito, fora de mim vejo o meu Eu e o te...

Palavras

Viajo sem fim à vista ou sempre do mesmo modo, viajo pelas palavras e pelos pensamentos que aqui vou lendo, a viagem é sempre a mesma, sinónimo de descoberta, de novo, de aventura, sobre o lápis vou deixando a minha marca, o escrito da minha consciência, deixo-me levar pela dobra das palavras e por aquilo que elas podem ou não significar, deixo-me levar pelas cores que me mostras e que desconhecia existir, pelos sons e pelas formas, crio os novelos,  lembro de alguns testemunhos, desdobro em palavras e invento as legendas, no diálogo que mantenho com o silêncio, vou descobrindo o comum da gramática e o já esquecido poeta da arte e do enredo, do dizer só e do só escutar, o extremo e intangível sagrado e profano, o novo dicionário e o mais antigo testamento, digo, então, o que nunca disse a ninguém, imito aquilo que ouço no meu pensamento e por mero acaso, emerge, das malhas mais profundas, esse desejo que é sonhar-te, que é gostar-te, que é amar-te, assim vão as palavras que j...

Memórias

O cheiro da terra, a sua cor avermelhada, esse sol que se esconde no horizonte, este silêncio que se estende na memória de um dia que ainda não vivi, a fotografia que ainda não tirei, a música que ainda não ouvi, a rua que ainda não percorri, a viagem que ainda não fiz, o reencontro que ainda não chorei, com quantos traços se pode apagar a memória, com quantos instantes se pode escurecer o querer, o sentir, onde estás tu, por onde andas, levanta-te e mostra-te, deixa-me agradecer, deixa-me viver, deixa-me entender esta culpa, esta raiva solitária, deixa-me figurar perante ti, deixa-me romper o equívoco, rasgar o silêncio, deixa-me meditar no abrigo da dor, da tua dor, deixa-me ser o verso e a melodia que o acompanha, deixa-me ficar na cor dos teus olhos, no limite da tua cumplicidade, deixa-me ser tudo em ti, minha triste e futura memória.

Confiança

Não me perguntes mais, segura-me nos teus braços, ampara o meu silêncio e as lágrimas que gritam enquanto dormes, de nada adianta querer chegar à fala com as palavras, entre os rumores que nos chegam e a infinita misericórdia, vive um ser de confiança, de transcendente sentido, de inteira verdade, herdada da vida, só para que a morte faça sentido, só assim repouso a mão na teu infinito mapa de sentido trágico que nos arranca do calor até ao fim do horizonte, até para lá da viagem, até para lá do luto e da agonia, até onde achas que conseguimos ver, mas é preciso ver mais longe, é...é preciso amar sem cura e confessar calado, é preciso, perante a beleza, perder-me diante de ti, recolher esse olhar perdido e entregar-me à dança, ao rodopio inventado entre o lápis e o pensamento, é preciso desenhar o não desenhado, é preciso encontrar a ilha dos amores, relatar doces escritos e naufragar diante desse teu ser, desse teu desejo, juntos ainda e para sempre,...

Não sei...

Não sei, não sei desse barulho, desse longo e intenso barulho que um dia ouvi do teu colo, das escadas que subi, da varanda que espreitei, da viagem que fiz, do decorrer do destino, não sei, não sei desse barulho que só o silêncio consegue entender, que irrompe das cinzas como uma espécie de luar, que deixa pelo chão a sua forma, que declama no palco trágico do meu ser, nesse rosto que descubro de olhos fechados, que comovido, deixa escapar essa dor, essa dor que nos junta, que nos entretece, que nos alia num só e único mundo, não sei, não sei do substantivo, do pronome, não sei da primeira pessoa, ou da terceira, não sei do verbo, nem da alcunha, não sei do preâmbulo, nem desse exercício, o da intimidade, não sei da prosa nem da poesia, não sei da tarde de sol poente, muito para além da rebentação das ondas, não sei até onde consigo ver, não sei viver o dia sem ver a noite, à espera de saber se existe algo para lá destes despojos que a vida insinua, é um desenlace,...

O sonho...

Da realidade se faz o sonho, esse que dizem comandar a vida, esse que por doce enigma não revela se é o corpo ou a mente, nesse sonho onde tudo pode e deve acontecer, onde o desejo se transforma numa nua e cruel realidade, numa visão de dor, de tão nobre e bela que é, caminho por esse lugar, onde imagino a tua presença, onde estás na realidade, sentada junto ao fogo, desnuda de todos os desejos e preconceitos, simplesmente presente e a desvendar a cor, o sentir, uma visão de emoções, de palavras que não se dizem, que se sentem, de um olhar que não se vê, que se troca, de um gesto que não toca mas arrepia, assim, sentado ao teu lado a admirar o que a alma me vai dizendo, perdido nessa lua cheia onde distingo o teu ser no amor, no alvoroço de um sonho que não me deixa dormir, nas palavras que não me deixam falar, que servem em murmúrios para se agarrar à vereda de um texto, a arte do sonho que se envolve em corpos suados, imaculados, que olha pela janela e espreita o frio, que impre...

o teu ser...

Do mais puro e instinto sentir é esta a encenação que liberta o traço e o fascínio pelo querer, ouço, leio e sinto as tangências de um assédio petrificado, libertador e extasiado, num destes escritos que babam de cobiça, dobra-se o ser sobre si mesmo, numa coreografia de desejo que não tem fim, é uma dança desnuda em lençóis de amarras, é um mar de sentidos, o corpo que cerco, onde de peregrino faço um caminho sem fé, visto assim, é o finito, o primeiro e o último, é da lonjura onde nasce o olhar, é um prenúncio difuso e íntimo, o que posso eu dizer além do sempre, como não é perturbador saber se o sentir é o acessório do olhar ou se é na dor que intento este prazer, nada é tão simples de tão enigmático, repousa a mão no presságio que comovido olha e deixa escapar a dor, condenada nas linhas da inocência, essa dor que ama sem cura e sofre sem remédio, confesso-me calado perante essa beleza, perdido perante os braços da quietude, entrego-me ao silêncio...

Anjo

Ausente que estou do teu olhar, contra o vento de afectos, debico o sentir da tua presença no meu pensamento, dorme o resto do corpo e mordem-se de deleite os lábios da alma, os braços que feitos de sombras e de íntimas aflições seguem a penumbra de um traço profundo no silêncio que adormece o medo. A linha da vida é difusa e até pode parecer com a linha do destino, mas sou eu, sou eu quem desenha e escreve de mim, sou eu quem cheira a terra após a chuva, é de mim que parte este velho testamento, é de mim que grita a raiva e a busca da resposta, é, provavelmente, o que faz a diferença, encontrar no meu mistério a inquietude, habitar no silêncio e abrigar a dor, fazer deste desejo o objecto do desejo de ser olhado. Acredito em ti meu Anjo.

Abraço

Pegamos ao acaso numa palavra, agora no que ela significa, o seu verbo, depois manuseamos o texto com arrepiantes adjectivos e golpes de escrita que achamos criativa, trabalho solitário este de desenhar a escrita em busca do abraço. Encontrado que está o dito, perdemo-nos na história com que tecemos o sentir e parecemos meninos a quem tiraram o brinquedo, do teu gesto, do teu toque, da tua presença desabam as estrelas e pedaços de lua cheia, as pernas tremem e o mar vai temperando as areias que escaldam e anunciam o inicio do susto que oculta o medo da verdade que sentimos, em torno de mim rodopia a tua cintura, em torno de ti ancoram os meus sentidos, finalmente fechas os olhos até pegarmos em outras palavras, em busca de outro abraço...  

Pintura

E se um dia retorquir, se um dia soltar a minha intuição, se um dia fizer uma pintura sem nenhum recado, assim, encurralado no meu próprio papel, naquele que me atribuiram, sou capaz de vir até junto a ti, acender a minha verdade, reflectir sobre o pensamento e levitar com a mesma leveza que esse sorriso traduz, porque tudo pode ser substituído pela escrita sem nunca me importar com as consequências desse acto e da sua gramática, quem sabe, é apenas semântica, aquela que fala com palavras nunca ditas, aquela que busca o sujeito e o provérbio, essa mesmo, aquela que vive dentro de nós.

Metáfora

Escrevo-te dos arredores do teu sonho mais profundo, não muito longe do templo da tua palavra, entre a verdade e a inquietude da mesma, entre a lua cheia e o sol que desperta. Quase jurava que a brisa que sinto a bater no meu peito faz viver um mar de emoções, arrasta em mim o cheiro do teu pensamento, um vasto e acreditado silêncio como a sabedoria, esculpido que está o teu olhar na figura audaz que domina o vale do destino, mas o que mais impressiona neste sufoco em que me enredo de doces aflições são os versos que suspiram do nome e que dizem, por caminhos já traçados, vivemos do fascínio que falam em metáfora, vivemos a alma que nos despe com o olhar, vivemos num outro ruído que sobra das palavras que se não dizem...

Sempre

Começo sobre ti, tenho amor e certeza, tenho tempo no teu tempo de silêncio, é a ínfima parte de um sonho que perdi, um sonho libertado que já o tinha esquecido. É um sinal. Espero o momento pela sombra escondida, ouço uma voz que me lembra a tua, passei pelo risco de sofrer por não saber ler o silêncio, é um sinal, um sinal para recomeçar, é o caminho para voltar, é onde tu me quiseres, sem cor, sem tom, simplesmente com verdade, eu sei que sou o que sempre desejei, a fala que escrevo, que fala a quem me lê, é meu, é teu, é de além mar ou mais, eu vou, eu estou onde tu me quiseres, porque no amor nunca é demais amar, sem norte, e sem destino, irei de peito aberto para onde o rumo me levar, o pranto que sinto cada vez que te canto, que te sinto, o sentir como sentido do que sentes por mim, eu vou, eu estou onde tu me quiseres,   és parte de mim e deste momento, e, se um dia, se distante estiveres, estarei aqui por ti, como dantes, agarra-me este noite, sente o tempo que perdi e q...

Encontro

Fui ao teu encontro pelo céu, cresci com o encanto de correr para ti, escondido nos teus braços, vi a estrela mais bonita, vi o sorriso mais sincero, montado nos teus joelhos percorri, segui os teus conselhos e voltei a lembrar o dia, esse dia.   Os teus olhos são esperança, os meus, um olhar distante, fui onde a vista alcança, deixei de ser quem sou, ainda durmo à lareira e sinto a tua essência no aconchego do meu ser, nada sei para além de tudo, ainda sofro pela verdade que esconde a próxima vez, não vou estar em mim se te quiser, mesmo que eu diga que tudo foi confusão, não falo com o coração, se é tarde ou cedo, se é hoje ou amanhã, agora ou nunca, pouco interessa, enquanto a música não me acalmar, o meu vicio por ti não vai passar, porque esmorece mas não esquece, porque o teu poema é um corpo que respira em céu aberto, no teu encanto existe a dor e a coragem de uma força viva, existe a noite, o riso e a certeza, no teu poema existe o silêncio, aquele que grita sem ...

Tu

Certo dia, ao encontro do meu ser, num dia sem qualquer significado ou provérbio, enquanto caminhava pelo desconhecido, enquanto pensava no destino, enquanto sentia e falava sobre o de sempre, eis que te deslumbro, eis que os meus olhos se cruzam nos teus, eis que o meu pensamento fica vazio de tudo, livre, sem mentira e sem destino, eis que num breve e único momento tudo se une, tudo faz sentido, tudo tem nome, tudo tem significado, acompanhas-me desde então, falas comigo diariamente, usas a minha linguagem, o meu gesto, sentes cada respiração, cada bater, cada verdade, sigo-te e encontro-te sem esforço, na penumbra da minha existência, relanço os dados e faço da vida uma página sem fim, felicidade é ter-te enquanto posso, uma lição de vida, um significado só nosso, finalmente sei o que isso é, finalmente consegui encontrar-te, consegui sentir-te, consegui falar-te, finalmente sou o Eu e Tu, finalmente somos o princípio e o fim, o primeiro e o último, obr...